EM ALGUM LUGAR DO PASSADO

EM ALGUM LUGAR DO PASSADO
Celia, 49 anos de felicidade. Não sei viver sem ela

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Arroz com feijão é bom demais!


Arroz com feijão é bom demais!

            Eu sempre gostei de arroz com feijão. Feijão preto é claro. Minha mãe era batuta para fazer feijões de todos os tipos. Era cortado, inteiro, com farinha, com linguiças da roça e um dia ela nos serviu uma sopa de feijão que entrou para a história. E o arroz? Soltinho, sempre deixava no fundo da panela uma rapa que eu adorava. Depois casei, descobri que a Célia era supimpa na cozinha. Seu feijão e seu arroz eram e ainda é inigualável. Eu tive duas fases na vida que nunca esqueci. A primeira foi quando casei e trabalhava na Usiminas em Minas Gerais. Ainda morava em Melo Viana, um distrito de Coronel Fabriciano. Era divertido, pegávamos um caminhão lonado e viajávamos mais de 40 quilômetros até a usina. Ida e volta, na carroceria mais de 100 peões. Um belo dia o Francisco que também morava em Melo Viana e como nós pagava aluguel disse que tinha um plano. Mais dois vieram se juntar a ele. – Vamos invadir um Galpão de uma Empreiteira na Candagolândia (um bairro de Ipatinga, próximo a Usina). Já verifiquei um galpão tem oito quartos e fica dois para cada um. Usamos os banheiros e tanques em conjunto.

                         Dito e feito. À noite juntamos nossos trapos, alugamos um caminhão que serviu para os quatro e partimos. Trabalhamos a noite toda para abrir uma porta de um quarto ao outro. Foi divertido. Durante um mês ninguém foi lá reclamar. Dois meses depois apareceu o fiscal. Sujeito valente, ameaçou, disse que ia chamar a policia e coisa e tal. Não chamou e continuamos lá. Um belo dia apareceu um funcionário da usina. Ofereceu-nos algumas casas na própria Candangolândia. Casas simples de dois cômodos. O telhado de amianto quase nos fez desistir, afinal trabalhávamos de turno e precisávamos dormir de dia. O vale do Aço tem temperatura média de 40 graus. Eu não discuti. Aceitei os outros não. Tanto ficaram que pegaram casas melhores. Paciência. Sabe o que eu gostava da Candangolandia? Era proximo ao rio Piracicaba. Lá eu podia nadar e pescar. Os vizinhos pacatos, gente boa mesmo tendo que dividir um banheiro e um tanque com quatro.

                         Nunca esqueci a Célia me dizendo: - Osvaldo não temos carne. Só feijão e farinha. Vê se pesca uns lambaris no Rio Piracicaba. Lá ia eu com minha varinha e minha bicicleta. Já conhecia os pesqueiros. Sentava e em menos de vinte minutos uma fieira com mais de 50 Lambaris Bocarra. Compridos, fritos uma delicia. Eu não tinha um ótimo salário. As compras eram feitas na Cooperativa da Usina. Cada um de nós só podia comprar vinte por cento do salário. Assim as compras só uma vez por mês. Minha casa tinha uma mesa, quatro cadeiras, um fogão a gás, uma prateleira de vidro, uma cama e um guarda roupa. Eu tinha também um rádio Philips e em ondas curtas podia ouvir rádios distantes. Eu gostava daquela vida, o Jan meu filho mais Velho já tinha um ano e seu sorriso era encantador. Depois vieram as dificuldades que já contei por aqui. A segunda foi quando fui convidado para ser o Gerente de uma Fazenda no Norte de Minas. Uma outra vida. Gado que sumia de vista nas largas e na beira do Rio das Velhas. Com um barco a motor que tínhamos era coisa de vinte minutos até o São Francisco.

                       Lá as histórias são muitas, mas aqui só vou contar à fartura que tivemos. Celia tinha uma bela horta. Enorme. Antonio Preto ajudava três vezes por semana. Eu dava a ele uma paga razoável. Tinha de tudo. E o galinheiro? Tantas galinhas que diariamente a Célia colhia mais de quatro dúzias de ovos. Amigos em Pirapora se deliciávamos quando chegávamos. Não esquecer o chiqueirinho. Sempre quatro capados engordando. A cada três meses o Seu Manezinho vinha para matar um. Um fogão feito de barro, três tachos enormes, carne à vontade. Célia fritava e colocava em latas de vinte litros com gordura de porco. Uma delicia para comer, era só tirar fritar e se deliciar. Linguiças? Tantas que em cima do fogão na área externa da minha casa quase não cabia. Eram sim linguiças de porco legítimas não essas de hoje. Não esquecer os choriços. Deus do céu! Me dá água na boca só em pensar.

                        Mas não era só isto não, eu vendia de três a quatro vacas mais velhas para açougueiros da região. Eles faziam questão de quando iam embora (eles mesmo matavam e desossavam) trazer um bom bocado de um cupim, de um filé mignon. Enfim era só dizer qual carne e eles traziam. A geladeira não era grande, era a gás, e eu não aceitava tudo que me davam. E os peixes? A lagoa que nas cheias o Rio das Velhas jorrava por dias, era farta em piaus, corvina, belos dourados, grandes surubins. A Célia me chamava e dizia: - Osvaldo, vamos comer um peixe? Traga um dourado, mas pequeno. Não mais que dois quilos! Lá ia eu com minha linhada, um pedaço de carne e meia hora depois estava de volta com o peixe encomendado. Hoje? Bem sempre tenho uma carne na geladeira. Congelada, nada fresco. Nem se compara aqueles lambaris fritos que nunca mais comi. Nem se compara com um filé, um cupim, carne de porco a escolher, linguiças, e choriços. Ah! Eu adoro choriços.  


                          O tempo ficou no passado, mas sempre é bom lembrar. Eu e Célia nos divertimos muito quando as tardes sentamos em nossa varanda e começamos a falar das coisas boas da vida, dos sofrimentos, das mudanças de residência, do escotismo e de tantas coisas. Mas as carnes e os peixes a gente não esquece nunca!     

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