EM ALGUM LUGAR DO PASSADO

EM ALGUM LUGAR DO PASSADO
Celia, 49 anos de felicidade. Não sei viver sem ela

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

“Causos e Ocausos” Belos tempos.



“Causos e Ocausos”
Belos tempos.
                   
                        Todos nós temos passagens na vida que não esquecemos. Algumas boas, outras ótimas e as ruins são em maior número. Depois que tempo passou é que vemos que todas elas tiveram sua hora certa para acontecer. Dizer que faríamos de outra maneira eu não sei. Se foi feito assim era porque acreditava que nada mudaria em nosso destino. Temos escolhas que muitas vezes nos assalta a mente por saber que elas podem dar ou não dar certo. Aqui não se trata somente disto. Minha vida foi divertida. Claro, muitos momentos ruins. Mas eu soube aproveitar a cada minuto, a cada dia e nunca deixei de tentar fazer e continuar fazendo até ver se ia dar certo. Algumas passagens do passado que hoje lembro e dou risadas. No passado não dei gargalhadas. Mas depois eu digo a mim mesmo. Valeu! E se valeu!

                 Esta aconteceu na década de sessenta, trabalhava como Técnico Programador em uma Usina Siderúrgica. Área de laminação. Foi nomeado pela diretoria o responsável para resolver todos os problemas da CIPA. (Prevenção Interna de Acidentes no Trabalho). O numero de acidentes multiplicava a cada mês. Alguém deu ideia sobre como evitar acidentes na área de ajustagem. Os esmeris eram um perigo. Ele deu uma ideia para melhorar o trabalho da piãozada. Primeiro aumentar o tamanho dos óculos de proteção e a segunda ia levar uma analise mais demorada. Trabalhavam juntos mais de 200 homens simultaneamente em cada turno distribuídos em dez bancadas diferentes. Junto com um supervisor da Ajustagem subimos na passarela da Ponte Rolante, pois lá em cima a visão do galpão (mais de cem metros de comprimento) era muito boa para ver a sugestão que deram na CIPA. Não sei como, em vez de olhar o galpão olhei para trás e vi um espetáculo que mudou a usina em seu modo de viver. Nada mais nada menos que a Secretária (uma bela loira metida que só vendo) de um Diretor alemão, famoso pela sua seriedade, fazendo sexo oral com ele. Ele não dava um pio. Esqueceram a janela aberta. De pernas abertas em cima de sua escrivania, ela agachada acariciava beijava e colocava na boca o membro dele, e quando ele terminou ela engoliu tudo. E ainda limpou o membro com uma toalhinha molhada. O Chefe da Ajustagem que estava ao meu lado bateu palmas. Eles correram para fechar a janela. Tarde demais. A Radio Pião tomou conta. A usina em peso só comentou aquilo por meses e meses. A secretaria foi demitida. O Diretor voltou para a Alemanha! Risos.

              Ainda na década de sessenta. Porto de Tubarão. Vitória. Trabalhava em uma companhia que estava construindo a Usina de Peletização de minério de ferro da Vale do Rio Doce. Era uma espécie de Chefe de Transporte. Trabalhava em um galpão de madeira e minha mesa ficava ao lado de um janelão que dava para avistar o mar a menos de cem metros. Um privilegiado eu me sentia. Todos os dias trabalhando e recebendo o vento marinho no rosto. Um dia resolvi almoçar correndo e tomar um banho de mar. Comi as pressas. De calção de banho pulei na água. Era bom nadador. O mar para mim não tinha segredos. Nadei mar adentro uns cento e cinquenta metros. Ia retornar e ao meu lado uns quatro tubarões. Enormes. Deus do céu! Desta vez estou morto, pensei. Eram mansos, me acompanharam até a praia. Depois fiquei sabendo que naquela época do ano eles viviam ali na costa. Tive sorte. Os perigosos apareciam mais tarde. Vivendo e aprendendo.

              Década de sessenta novamente. Meu casamento. Uma epopeia. Celia minha esposa com dezesseis anos. Precisava do pai para autorizar. Pai sumiu. Custei a arrumar um juiz na cidadezinha que morava para fazer o casamento civil. Não tinha recebido o pagamento. Duro. Celia e a mãe vieram de trem. Pedi ao Carlos meu amigo se me emprestava oitenta reais. Valor para pagar o Juiz. Ele não tinha. Tomou emprestado do juiz, mas não disse para que. Deu-me o dinheiro. Depois de casado paguei ao Juiz. Ele olhou a notas. Risos. Acho que reconheceu, mas não entendeu nada!

              Norte de minas meio da década de setenta. Gerente em uma fazenda. Cria recria e engorda mais de 8.000 cabeças. Queria mostrar que entendia. Bem de mato sim, mas de gado não. Comecei no cavalo. Trazeiro doía horrivelmente. Um ano depois ainda não tinha traquejo. Os vaqueiros diziam que precisa de calo na “bunda”. Risos. Anualmente vacinar o gado. Aftosa e etc. A junta não era fácil. Demorávamos mais de três meses para vacinar todos. Demos falta no final de umas cem cabeças. A maioria garrotes. Ariscos. Achamos trinta deles na larga grande. Região de Cerrado. Mata fechada. Cactos à vontade. Muitas árvores com espinho. Cipós à vontade. Meu cavalo avista um garrote. Apronta uma corrida atrás dele sem minha ordem. Estava de perneira e chapéu de couro. Não adiantou. Bati a cabeça em um galho de árvore. Cai no meio dos espinheiros. Um mês de molho. A vaqueirada rindo da peça. Celia demorou dois dias para tirar espinhos no meu corpo. Cavalo? Passei cinco meses sem montar...

             Ainda no Norte de Minas. Ainda na fazenda. Tínhamos dois tratores agrícolas pequenos que chamávamos de jeriquinho um e dois. Um tratorista chamado Antonio Branco estava fazendo uma roçada em um piquete enorme. Cabia mais de trezentas cabeças. Tínhamos uma boa roçadeira acoplada ao jeriquinho. Quando cheguei lá a cavalo o era hora do tratorista almoçar. Resolvi dar uma roçada por minha conta. Eu entendia bem do trator e da roçadeira. No final do piquete um monte de arvores pequenas e lá fui eu para cortar e roçar. Maldita árvore. Tinha duas grandes casas de marimbondos. Antonio sabia, mas esqueceu de me avisar. Milhares de maribondos em cima de mim. Pulei do trator ainda ligado e em movimento. Corri feito um demônio para o Rio das Velhas distante uns cem metros. Pulei na água. Mordidas mil. Fiquei inchado. Fui parar no hospital de Pirapora. Mais trinta dias de molho. Sou mesmo um sujeito de sorte.

                São Paulo final da década de setenta. Gerente de Depósito de Materiais trabalhando na Vila Leopoldina. Três galpões enormes abarrotados de tubos de aço. Os pisos ficavam a mais de metro e meio de altura da rua. Começou a chover. Agua subindo. Subindo. Subindo. Quando vi que ia passar o piso mandei todos saírem com agua no pescoço até a rua onde a enchente não tinha chegado. Fui o ultimo. Quando tirei a bota com biqueira de aço, pisei em um mandi ou bagre sei lá. Quem conhece sabe o veneno que o danado solta em sua barbatana dura em forma de espada. Meu Deus! Uma dor incrível. Mesmo assim abandonei minha sala e fui até a saída. Pisei em outro e mais outro. Mal deu para chegar à rua sem enchente. Não aguentava andar. Direto para o pronto socorro. Paradoxo. Trabalhar em São Paulo, pegar uma enchente de um córrego sujo, que ninguém nunca supôs ter peixe e ser envenenado por mandís. Valha-me Deus.

               São Paulo, década de oitenta. Assistente regional de adestramento escoteiro. Curso programado no campo Escola do Jaraguá. Chovia a cântaros. Meu carro não pegava. O jeito era ir de moto. Do meu filho mais "Velho". Andava mal, mas andava. Ao chegar à porteira (hoje tudo mudado) abri passei a moto fechei e fui na estradinha cheia de barro. Em uma curva cai. Com a moto em cima da perna esquerda. Deitado na lama sem poder sair. Só trinta minutos depois apareceu um carro com alunos. Viram-me. Ajudaram-me. Claro para o hospital. Fratura na perna. Engessei mas voltei ao campo escola de taxi. Sentado participei do curso. Ao chegar a casa no domingo um grande susto. Voltei de moto. Perna engessada. Quando conto até hoje acham que inventei. Perguntem aos alunos. Perguntem a minha família. Risos.

                Tem mais, muito mais, mas fica para outra. Inté como diz o mineiro. Risos.