EM ALGUM LUGAR DO PASSADO

EM ALGUM LUGAR DO PASSADO
Celia, 49 anos de felicidade. Não sei viver sem ela

domingo, 12 de agosto de 2012

O delicioso vício do cigarro.



O delicioso vício do cigarro.

           Aos dezesseis anos comecei a fumar. Não devia. O primeiro foi um inferno. Tragava cospia e os amigos rindo. Sempre quando se começa era assim. Uma época que o cigarro era incentivado e falado nas altas rodas. Em toda parte era chique fumar. Você ia ao cinema e lá estavam os seus heróis fumando. Que o Diga John Wayne o herói americano dono de um curriculum de filmes inigualável. Mesmo participando do escotismo não havia naquela época nenhuma censura ao cigarro. O vício começou. Em pouco tempo estava fumando um maço por dia, depois um maço e meio. O Minister e o Luiz XV eram os meus favoritos.
          Durante anos fumei sem parar. Ainda bem que não fumava dentro do meu quarto na cozinha, mas na sala! Aos vinte e oito anos vi diversos homens fumando cachimbo. O cigarro já era considerado “persona non grata”. Hora de parar. Vamos para o cachimbo. Não se traga, aspira e solta pelo nariz. Não foi fácil deixar um e aprender a usar o outro. A saga do cachimbo me acompanhou por muitos anos. Em fins da década de oitenta resolvi largar tudo. Agora via que o cigarro, o cachimbo e o charuto estavam sendo condenados em todas as partes do mundo. Mas, acho que foi tarde demais.
         Durante muitos anos me senti melhor. Bons exercícios, caminhadas enormes meu ar melhorou e não engordei como dizem os que param de fumar. Mas um dia, acho que foi há uns três anos atrás estava tudo normal comigo. E uma manhã pimba! Não aguentava ficar em pé! O ar faltava! Achei que ia morrer. Fui direto ao pronto socorro.  O diagnóstico poderia ser Enfisema Pulmonar ou Edemar Pulmonar. Exames e mais exames. Um soro, umas injeções e voltei para casa. Mas não dava para deitar. Não dava. Era deitar e o ar sumia. Parecia que ia morrer ali na cama.
        Médicos e médicos. Ficou confirmado. Era uma Enfisema Pulmonar. Sem chances de cura. Um tratamento mantém um pouco a vida que se esvai. O ar falta sempre. Uma fraqueza incrível. Tosse terrível. Hoje me mantenho, mas as crises vão e vem. Um dia sei que o ar não irá voltar. Será o fim. Não me preocupo com isto. Não sei se estou preparado ou não para ir. Mas o que Deus achar que sim não tenho porque discordar. Dizem que sempre quando envelhecemos colocamos mensalmente um “bode” na sala. Na época da revolução russa todas as casas foram distribuídas entre várias famílias. Quando alguém reclamava que estava apertado, se colocava um bode na sala. O mau cheiro e as necessidades fisiológicas do bode incomodavam todo mundo. Retirava-se o bode e todos passavam a viver harmoniosamente.
         Assim acontece conosco. Quase sempre aparece um bode, ou seja, uma doença nova. E assim vamos vivendo. Quando vejo alguém fumando penso em dizer a ele o que tenho. Tudo por causa do cigarro. Mas não adianta. Os fumantes não dão ouvidos. Um dia se arrependerão, mas será tarde demais. Hoje vou levando a vida. Ainda bem que aceito tudo de bom grado sem reclamar. Claro inalações três ou mais vezes ao dia. Remédios diversos. Outros remédios para os bodes da vida. Não sou um sofredor. Nada disto. Tem amigos em piores situações que não reclamam.
         Mas o delicioso vicio do cigarro hoje é uma sina do passado que levo até o fim da vida. Ou seja, a vida me empurra e não sei o futuro o dia de amanhã. Ainda bem que tenho uma família linda e minha esposa é fenomenal. Está sempre ao meu lado, aqui no Pronto Socorro e até quando vou a um hospital para tirar umas férias de uma ou duas semanas. Ela é perfeita. A Amo de montão. Adoro-a. Acho que somos almas gêmeas e tenho certeza que ficaremos juntos por todas as outras vidas que virão.
        Os dias vão passando e vou me divertindo como posso. Milhões de fumantes um dia passarão o que estou passando. Não se tem leis para proibir e nem é possível proibir a escolha do ser humano. Não se pode voltar atrás para não colocar um cigarro na boca pela primeira vez. Mas dizem que sempre dá para recomeçar. Neste caso não. O corpo está condenado. Quem sabe em uma outra vida.
         Hoje ando pouco, o ar me falta toda hora e quando chega à época de frio é um desespero. Mesmo agasalhando ao máximo não adianta. É quando vem as crises. Bendito ou maldito cigarro? Se alguém que me lê fuma e minhas palavras serviu para alguma coisa, fico feliz. Aliás, sou um homem feliz. Aconteça o que acontecer. Tive uma vida cheia de felicidade. Não tenho o que reclamar. Obrigado meu Deus!

E hoje, o pior é quando alguém fuma perto de mim,
Parece que vou morrer. Não dá para fugir.
Ei você? Pense bem. Não fume não vá se matar por nada!