Histórias de minha vida.
O casamento.
Acredito que
todos tem uma história para contar do dia do seu casamento. Eu tenho o meu.
Devem ter havido centenas e ou milhares como o que vou contar. Mas dizem que o que
acontece com a gente sempre tem algum mais importante do que os demais. Sem
querer é claro menosprezar ninguém. Mas vamos lá, isto aconteceu em setembro de
1964. Meu namoro durou um ano e o noivado mais um. Trabalhava na Usiminas,
ganhando coisa de dois salários como hoje. Duro, queria casar, mas como? Nem os
móveis conseguia comprar. Um fato interessante aconteceu, pois uma pseudo revolução
da peãozada da usina mandou para a rua seus vigilantes. Eram caçados pelos
peões pelas maldades que fizeram. Outra história já contada aqui. A diretoria
da Usiminas ficou sem saber qual posição tomar, pois precisava de vigilantes
para tomar conta das portarias e outras áreas importantes. Tiveram a feliz
ideia de convidar os próprios trabalhadores para a função. A ideia era usá-los
por alguns meses até que se formasse um novo corpo de vigilantes.
Quando soube
que pagavam mais 50% sobre o salario e que as horas extras eram liberadas
deixei meu serviço no Alto Forno e lá fui eu me tornar vigilante. Deram-me uma guarita
próximo ao bairro do Carandiru, bem afastado e eu costumava ficar lá por doze a
quinze horas sozinho. Como Escoteiro aprendi a viver só, não foi difícil enfrentar
quase três meses naquele fim do mundo. Valeu. Consegui juntar um dinheirinho. Marcamos
a data do casamento. Minha sogra queria mais tempo, pois sempre tinha sonhado
com uma festa para a filha, mas eu não podia adiar muito. Tivemos um problema,
a Celia tinha dezesseis anos e o seu pai sumiu no mundo. Nenhum cartório queria
fazer o casamento por ela ser menor e sem autorização do pai. A não ser se
algumas providencias fossem tomadas. Publicar em jornais da cidade e da capital
notícias dele por três meses. Caramba eu queria casar logo. Não podia gastar
mais. Em Melo Viana onde morava meu amigo Carlos que dividia comigo uma república,
ou seja, alugamos uma casinha de um quarto, sala cozinha e banheiro bem no fundo
do quintal (que foi minha morada por algum tempo com a Célia) conhecia o Juiz
de Paz do distrito e me disse que ele faria o casamento. Marcamos na igreja de
Valadares cinco dias depois do casamento no civil.
Minha
sogra, minha querida sogra que aprendi a amar como filho era da moda antiga.
Nunca deu folga para eu e Celia. Fomos todos e os padrinhos até Mello Viana, fizemos
o casamento (ainda não tinha recebido o pagamento e um fato interessante
aconteceu – Carlos me emprestou o dinheiro que tomou emprestado do Juiz de Paz
que eu paguei com o próprio dinheiro dele – risos) e a Celia e minha sogra
voltaram para Valadares. Ela sem o casamento na igreja não deixaria que eu e
ela ficássemos juntos. Paradoxo – Casados legalmente, mas sem poder ficarmos
juntos. Cinco dias depois foi realizado o casamento na Igreja. Foi um casamento
até interessante. A igreja lotada, mas os pernilongos não nos deixavam em paz.
Enquanto padre falava eu espantava os pernilongos sem prestar atenção nenhuma no
padre.
Depois do
casório uma festinha, doces salgados e um sanfoneiro no quintal dirigia a orquestra.
O meu trem iria partir às cinco e meia da manhã. Na estação diversos
maquinistas, o chefe da estação, e outros manobristas e funcionários que
conheciam minha sogra resolveram atrasar o trem para cumprimentos e cantorias. Paciência.
As seis lá fomos nós para Coronel Fabriciano. Toda hora o Chefe do Trem passava
para nos cumprimentar. Esteve na festa e bebeu além da conta. Risos. Pela
primeira vez em quatro anos juntos eu pude abraçar a Celia. Nunca tivemos esta
liberdade. Na chegada não tinha dinheiro para o taxi. Eram três e nenhum
conhecido. Esperamos o ônibus. Daqueles antigos e só tinha dois na linha.
Esperamos duas horas. Enfim chegamos. A casa onde eu e meu amigo vivíamos foi
meu primeiro lar. Ele foi morar na pensão que antes morávamos. Tinha com o
dinheiro extra comprado um jogo de quarto, uma mesa para a cozinha, quatro
cadeiras e um fogão a gás (Era a lenha antes) e um radio de Ondas Curtas.
Abri a
porta da casa olhei para a Célia e disse – Enfim sós. Sonhava com isto. Mas eis
que amigos chefes Escoteiros chegaram. Abraços efusivos. Olhem não foi fácil.
Não tinha condições financeiras para uma Lua de Mel. Isto nunca existiu em meus
sonhos. Os amigos só foram embora às oito da noite. Dois deles chegaram a
almoçar comigo. Eram mais de vinte e se revezavam. As nove sozinhos de novo.
Fechei a porta e lá estava ela sendo tocada. Abri. Era o Padre da Paróquia onde
tínhamos o Grupo Escoteiro. Ele o Zé Pontes um marceneiro e Chefe Sênior.
Ficaram até meia noite. Ao sair eu não aguentava mais. Agora era dormir. Não
deu. O Carlos meu amigo e outro Chefe Escoteiro lá estavam na porta. Risos. Foi
tudo combinado. Amigos são assim. Falei um palavrão e fechei a porta. Não
adiantou. Vários deles eram violeiros. Ficaram até às cinco da manhã cantando,
rindo e contando piadas de recém casados.
São coisas
que a gente não esquece. Fui criado sem muitos sonhos de adultos a não ser meu
sonho de ter uma casinha pintada de branco, uma cerca de madeira também caiada
de branco, rosas brancas e vermelhas, petúnias e sentar as tardes quando podia
para ouvir em meu radio de Ondas Curtas a Radio Nacional e Mairinque Veiga.
Nenhuma delas existe mais. Belas tardes de sábado quando ficava pregado ouvido
o programa de maior sucesso em todo Brasil – Hoje é dia de Rock. Roberto Carlos
nos seus primórdios. A vida voltou ao normal. O turno de oito horas me esperava,
pois nosso horário na usina era de revezamento – de 8 as 16, de 16 as 24 e de
24 às 8 da manhã. Muitos anos assim. Mas quer saber? Sempre fui muito feliz.
Nunca achei que isto era para pobre. Se fosse eu era um pobre rico de amor e de
coração.
Lembranças... Quem não as tem? Elas sim
valem a pena voltar no tempo para ver que a felicidade existe. Basta olhar com
carinho e analisar – Isto sim valeu a pena. Se pudesse não mudaria nada do
passado!
Este
ano quero paz
No meu coração
Quem quiser ter um amigo
Que me dê a mão...
No meu coração
Quem quiser ter um amigo
Que me dê a mão...
O tempo
passa e com ele
Caminhamos todos juntos
Sem parar
Nossos passos pelo chão
Vão ficar...
Caminhamos todos juntos
Sem parar
Nossos passos pelo chão
Vão ficar...
Marcas
do que se foi
Sonhos que vamos ter
Como todo dia nasce
Novo em cada amanhecer...
Sonhos que vamos ter
Como todo dia nasce
Novo em cada amanhecer...
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