EM ALGUM LUGAR DO PASSADO

EM ALGUM LUGAR DO PASSADO
Celia, 49 anos de felicidade. Não sei viver sem ela

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Histórias de minha vida. O casamento.


Histórias de minha vida.
O casamento.

              Acredito que todos tem uma história para contar do dia do seu casamento. Eu tenho o meu. Devem ter havido centenas e ou milhares como o que vou contar. Mas dizem que o que acontece com a gente sempre tem algum mais importante do que os demais. Sem querer é claro menosprezar ninguém. Mas vamos lá, isto aconteceu em setembro de 1964. Meu namoro durou um ano e o noivado mais um. Trabalhava na Usiminas, ganhando coisa de dois salários como hoje. Duro, queria casar, mas como? Nem os móveis conseguia comprar. Um fato interessante aconteceu, pois uma pseudo revolução da peãozada da usina mandou para a rua seus vigilantes. Eram caçados pelos peões pelas maldades que fizeram. Outra história já contada aqui. A diretoria da Usiminas ficou sem saber qual posição tomar, pois precisava de vigilantes para tomar conta das portarias e outras áreas importantes. Tiveram a feliz ideia de convidar os próprios trabalhadores para a função. A ideia era usá-los por alguns meses até que se formasse um novo corpo de vigilantes.

              Quando soube que pagavam mais 50% sobre o salario e que as horas extras eram liberadas deixei meu serviço no Alto Forno e lá fui eu me tornar vigilante. Deram-me uma guarita próximo ao bairro do Carandiru, bem afastado e eu costumava ficar lá por doze a quinze horas sozinho. Como Escoteiro aprendi a viver só, não foi difícil enfrentar quase três meses naquele fim do mundo. Valeu. Consegui juntar um dinheirinho. Marcamos a data do casamento. Minha sogra queria mais tempo, pois sempre tinha sonhado com uma festa para a filha, mas eu não podia adiar muito. Tivemos um problema, a Celia tinha dezesseis anos e o seu pai sumiu no mundo. Nenhum cartório queria fazer o casamento por ela ser menor e sem autorização do pai. A não ser se algumas providencias fossem tomadas. Publicar em jornais da cidade e da capital notícias dele por três meses. Caramba eu queria casar logo. Não podia gastar mais. Em Melo Viana onde morava meu amigo Carlos que dividia comigo uma república, ou seja, alugamos uma casinha de um quarto, sala cozinha e banheiro bem no fundo do quintal (que foi minha morada por algum tempo com a Célia) conhecia o Juiz de Paz do distrito e me disse que ele faria o casamento. Marcamos na igreja de Valadares cinco dias depois do casamento no civil.

               Minha sogra, minha querida sogra que aprendi a amar como filho era da moda antiga. Nunca deu folga para eu e Celia. Fomos todos e os padrinhos até Mello Viana, fizemos o casamento (ainda não tinha recebido o pagamento e um fato interessante aconteceu – Carlos me emprestou o dinheiro que tomou emprestado do Juiz de Paz que eu paguei com o próprio dinheiro dele – risos) e a Celia e minha sogra voltaram para Valadares. Ela sem o casamento na igreja não deixaria que eu e ela ficássemos juntos. Paradoxo – Casados legalmente, mas sem poder ficarmos juntos. Cinco dias depois foi realizado o casamento na Igreja. Foi um casamento até interessante. A igreja lotada, mas os pernilongos não nos deixavam em paz. Enquanto padre falava eu espantava os pernilongos sem prestar atenção nenhuma no padre.

                Depois do casório uma festinha, doces salgados e um sanfoneiro no quintal dirigia a orquestra. O meu trem iria partir às cinco e meia da manhã. Na estação diversos maquinistas, o chefe da estação, e outros manobristas e funcionários que conheciam minha sogra resolveram atrasar o trem para cumprimentos e cantorias. Paciência. As seis lá fomos nós para Coronel Fabriciano. Toda hora o Chefe do Trem passava para nos cumprimentar. Esteve na festa e bebeu além da conta. Risos. Pela primeira vez em quatro anos juntos eu pude abraçar a Celia. Nunca tivemos esta liberdade. Na chegada não tinha dinheiro para o taxi. Eram três e nenhum conhecido. Esperamos o ônibus. Daqueles antigos e só tinha dois na linha. Esperamos duas horas. Enfim chegamos. A casa onde eu e meu amigo vivíamos foi meu primeiro lar. Ele foi morar na pensão que antes morávamos. Tinha com o dinheiro extra comprado um jogo de quarto, uma mesa para a cozinha, quatro cadeiras e um fogão a gás (Era a lenha antes) e um radio de Ondas Curtas.

               Abri a porta da casa olhei para a Célia e disse – Enfim sós. Sonhava com isto. Mas eis que amigos chefes Escoteiros chegaram. Abraços efusivos. Olhem não foi fácil. Não tinha condições financeiras para uma Lua de Mel. Isto nunca existiu em meus sonhos. Os amigos só foram embora às oito da noite. Dois deles chegaram a almoçar comigo. Eram mais de vinte e se revezavam. As nove sozinhos de novo. Fechei a porta e lá estava ela sendo tocada. Abri. Era o Padre da Paróquia onde tínhamos o Grupo Escoteiro. Ele o Zé Pontes um marceneiro e Chefe Sênior. Ficaram até meia noite. Ao sair eu não aguentava mais. Agora era dormir. Não deu. O Carlos meu amigo e outro Chefe Escoteiro lá estavam na porta. Risos. Foi tudo combinado. Amigos são assim. Falei um palavrão e fechei a porta. Não adiantou. Vários deles eram violeiros. Ficaram até às cinco da manhã cantando, rindo e contando piadas de recém casados.

              São coisas que a gente não esquece. Fui criado sem muitos sonhos de adultos a não ser meu sonho de ter uma casinha pintada de branco, uma cerca de madeira também caiada de branco, rosas brancas e vermelhas, petúnias e sentar as tardes quando podia para ouvir em meu radio de Ondas Curtas a Radio Nacional e Mairinque Veiga. Nenhuma delas existe mais. Belas tardes de sábado quando ficava pregado ouvido o programa de maior sucesso em todo Brasil – Hoje é dia de Rock. Roberto Carlos nos seus primórdios. A vida voltou ao normal. O turno de oito horas me esperava, pois nosso horário na usina era de revezamento – de 8 as 16, de 16 as 24 e de 24 às 8 da manhã. Muitos anos assim. Mas quer saber? Sempre fui muito feliz. Nunca achei que isto era para pobre. Se fosse eu era um pobre rico de amor e de coração.

               Lembranças... Quem não as tem? Elas sim valem a pena voltar no tempo para ver que a felicidade existe. Basta olhar com carinho e analisar – Isto sim valeu a pena. Se pudesse não mudaria nada do passado!

Este ano quero paz
No meu coração
Quem quiser ter um amigo
Que me dê a mão...
O tempo passa e com ele
Caminhamos todos juntos
Sem parar
Nossos passos pelo chão
Vão ficar...

Marcas do que se foi
Sonhos que vamos ter
Como todo dia nasce
Novo em cada amanhecer...

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