EM ALGUM LUGAR DO PASSADO

EM ALGUM LUGAR DO PASSADO
Celia, 49 anos de felicidade. Não sei viver sem ela

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Nos tempos da brilhantina.


Nos tempos da brilhantina.

                        Eu não tive blusão de couro, botas como a do Roberto Carlos, eu fiquei fora de muitas coisas da minha época. Tive um casamento que perdura até hoje onde a felicidade mora em meu lar. Não tive lua de mel, o que era isto? Naquela época a rapaziada da minha cidade do interior não sabia de muitas coisas. Papai Noel estava chegando, para nós era época do nascimento de Jesus. Perder a missa do galo era ficar arrependido por todo o ano até que estivéssemos presentes em outra. Pascoa se fazia diferente. Coelho? Chocolates? Nunca tinha ouvido falar. Dias das mães, dos pais, dos avós, do tio, da criança ainda seriam criados. O comercio ainda não tinha pensando nisto. Dizem que nas cidades grandes ou mesmo onde os filhos tinham pais que os mandavam estudar em colégios importantes eram os representantes do Brasil na modernidade.

                  Quem vê hoje nem adivinha o que era naquele tempo. Modernidade? Eu tentei, levantei a gola da camisa para ficar igual ao Elvis Presley. Penteado não dava. Tinha o cabelo seco e crespo. Casei em um dia e a noite fui trabalhar. Moleza? Nunca tive. Ficar aqui e ali cantando Rock and roll tomando uma cervejinha não dava. Dinheiro não sobrava. Mal e mal uma “furrupa” em casa de amigos que hoje se transformou em baladas nas casas famosas do Brasil. Quando os militares resolveram fazer uma revolução e tomar o poder eu fiquei na minha. Tinha outras preocupações. Mulher e filho para cuidar. Trabalhando em turnos, pouca folga salário pequeno. Eu lia as prisões, quase fui preso porque um dedo duro disse que nosso Grupo Escoteiro era comunista. Só porque usávamos lenço vermelho. Cara pintada? Punk? Baderneiros que saem quebrando tudo? Isto nem pensar. Ainda éramos cavalheiros, tirávamos o chapéu para as mulheres, dava o banco do ônibus para elas principalmente os maiores de idade. Puxar a cadeira para uma dama sentar, pagar a despesa, ser educado e prestativo era nosso lema.

                         Criei quatro filhos trabalhando de sol a sol. Nada faltou para eles, mas nunca fui rico. Nunca fui um cara pintada, não tinha tempo para isto. Faltar ao serviço era ser demitido e eu não podia me dar este luxo. Hoje vejo greves de meses. Todos recebendo seus salários para ficar em casa. Sei que muitos tem razão, mas receber sem trabalhar? Quem dera eu pudesse fazer isto. Nas grandes cidades não se anda tranquilamente mais. É passeata para todo lado. A maioria resolve e nem comunica as autoridades. Um direito deles? E o meu direito de ir e vir? Só eles tem este direito? Nunca vi tantas passeatas. Ainda bem que ninguém se preocupa em trabalhar. Está recebendo e, portanto tem o direito de infernizar a vida do outro que quer passar. Era outra época, época que os empregos não existiam. Você fazia o primário e os demais só em colégios pagos. Faculdade para pobre no interior? Matuto não tem vez.

                         Mas foi um tempo bom, gostoso, alegre, cheio de vida. A honestidade fazia a vez entre os jovens. Havia a preocupação com a honra, com o caráter e a boa apresentação. Contar que quando jovem ia fazer meu “fut” (passeio) na praça da cidade é demais. Praça redonda, a rapaziada que tinham condições com seu blusão de couro, sua calça faroeste (jeans ainda não existiam) camisas de mangas compridas com as golas levantadas. Uma turminha cantado baixinho um rock qualquer. Eu na minha simplicidade sem um tostão furado trabalhava com meu pai e ele técnico de rádio sempre tinha um radinho potente para ouvir. Aos sábados os amigos me procuravam, ligávamos um radio na Radio Mayrink Veiga só para ouvir o programa do Roberto Carlos – Hoje é dia de Rock! – Fenomenal. Poucos compravam seus discos de vinil das musicas do momento. Um dia comprei um do Little Richard. Quase furei o disco de tanto tocar.

                             Outra época era feliz. Existia sim os políticos desonestos. A gente ficava a parte. Eles roubavam sorrindo sem você saber. Hoje não se sabe se tem políticos honestos. Cometem um crime e na maioria são soltos. Vão gastar nas Américas, na França e praias famosas do mundo. Eu gostava daquele mundo. Mundo onde sabíamos quem era quem. Cidade pequena os segredos eram difíceis de serem guardados. Só fui ter uma TV lá pelos anos de 1965. Geladeira também. Faziam falta? Claro que sim, mas quem se preocupava? Saudades daquele tempo. Não me importava em receber salário baixo, afinal eu ainda tinha um e muitos não tinham nada. Esta luta de hoje sei que vale a pena. Mas apenas para uma classe. Quem não pode fazer passeata, quem não pode ter representantes vive e morre com o que tem.


                               Não sei se existe termo de comparação. Mas se pudesse escolher preferiria meus Tempos da Brilhantina. Eu era feliz e não sabia! 

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