EM ALGUM LUGAR DO PASSADO

EM ALGUM LUGAR DO PASSADO
Celia, 49 anos de felicidade. Não sei viver sem ela

quinta-feira, 30 de abril de 2015

A casinha pequenina branca como a lua.


A casinha pequenina branca como a lua.

                      Quando crescemos costumamos rir de nós mesmos dos tempos de criança. Quantas coisas fizemos, traquinagens mil e a cada ano vamos olhando o mundo de outra forma. Algumas marcam para sempre outras se perdem na memória do tempo. Hoje quando vemos a meninada fazendo das suas sempre preocupamos sem pensar que um dia fizemos assim também. E os sonhos juvenis? Eram lindos. O primeiro amor? Dizíamos ser único. Hoje me veio à lembrança de quando a vi pela primeira vez. Eu entrando nos meus dezesseis anos ela nos treze anos. Foi um namoro de mais de um ano sem um toque, sem uma fala sem sentir a respiração do outro. Incrível não? Outra época.

                  Morava em um barracão em forma de L. Na parte mais curta era meu quarto. Minhas duas irmãs e meus pais moravam na outra parte do barraco. Não tínhamos água encanada. Uma cisterna com uma bomba manual. Todos deveriam antes de tomar banho e quando sair de casa, dar duzentas “bombadas”. A caixa não enchia, mas se mantinha pela metade. Era um bairro afastado da cidade. Novo ainda. Em frente ao nosso barracão uma pequena construção. Acompanhei parte por parte como se fosse minha construção. Minha morada. Em meus sonhos nós tínhamos casado. Sonhava em ter minha casinha, pintada de branco, cercas de madeira também caiada de branco, um portãozinho simples que deveria ranger quando eu chegasse a casa. Era um aviso. Pensava em vê-la abrir a porta, dar aquele sorriso e dissesse – Oi meu amor correu tudo bem com você? Filhos? Muitos!

                        Tudo sonho. Meu trabalho era ajudar meu pai. Mas meu sonho me mostrava como um grande técnico em consertos de radio. Fazia um curso. Um sonho que durou por muito tempo. Quando um dia falei com ela quando senti seus lábios próximos aos meus, quando senti a maciez da sua mão mais e mais sonhava com a casinha caiada de branco com rosas vermelhas na janela. Quatro anos depois nos casamos. A casinha onde fomos morar não era caiada de branco. Era verde, dois cômodos, um quarto e uma cozinha que servia de sala. Banheiros no fundo do quintal. Ela com seus dezesseis anos e eu com meus vinte e um. Acredito termos vividos os momentos mais felizes de nossas vidas. Nunca moramos em uma casinha com cercas e portão caiados de branco. Algumas tínhamos rosas, violetas e bromélias, mas nunca brancas.


                    O tempo passou. Moramos em muitas moradas. Em todas elas fomos felizes. Nunca pintei nenhuma delas de branco. O sonho de passado ficou só na lembrança. Quando parti da minha cidade, a que estava sendo construída e nos meus sonhos era minha, não foi terminada. Soube que os noivos terminaram. Um casamento que não deu certo. Se ela está lá hoje não sei. Mas ainda nos meus sonhos a vejo pintada de branco, com um belo jardim florido e os meus quatro queridos filhos brincando com seus velocípedes, com suas bolinhas de gude e eu e ela na varandinha, a olhar com amor a felicidade que permanece até hoje. Interessante, nestes sonhos ainda não crescemos. Ainda somos os saudosos adolescentes de outrora. Sonhos que aconteceram. De outra forma. Ainda bem que ela nunca me abandonou e se existir a frase – Foram felizes para sempre – Este sou eu e ela. Graças ao bom Deus!

sábado, 18 de abril de 2015

Onde anda o Zé Neguinho?


Onde anda o Zé Neguinho?

                  Ah o tempo! A gente não percebe e quando percebe ele deu uma volta ou milhões de voltas no mundo só para nos trazer as lembranças de um tempo que já se foi. Zé Neguinho nunca foi Escoteiro. Deveria ter sido, mas seu destino estava escrito de outra maneira. Queira ou não fomos amigos. Amigos que se respeitavam. Brigamos muito, de tapa, de soco, mas de arma branca nunca. Eu e ele sabíamos que nenhum de nós dois era melhor que o outro. Acho que a primeira vez que brigamos eu estava com oito anos e ele por aí também. As brigas foram frequentes pelo menos uma a cada dois meses. Nunca envolvi meus amigos Escoteiros em nossas brigas. Mas hoje fico pensando: - Porque brigamos tanto? Não havia ódio, rancores, quantas vezes cansávamos de tanto brigar, ficávamos sentados olhando um para o outro dando belas gargalhadas?

                O tempo passou. Acho há última vez que nos vimos foi em 1966 ou 1967 não me lembro de bem. Faz tempo não? Eu não lembrava mais dele e tenho certeza que ele também não mais se lembrava de mim. Eu viajava em um trem da Leopoldina de Caratinga para Ponte Nova. Lá ia pegar outro trem até Dom Silvério. Meu destino era Barra longa a convite de um Grupo Escoteiro que estava começando. Era Comissário Regional em Minas Gerais e sempre fazia estas viagens pelo interior de Minas. Eu cochilava quando o trem parou em uma estação. Olhei pela janela e vi lá fora dezenas de soldados armados correndo para todo lado. Cercaram o trem. Ouvi alguém gritando alto: - Zé Neguinho! Quem fala é o Capitão Barbosinha.  Você sabe quem sou eu.  Sei que está aí neste vagão. Desça com as mãos para cima. O trem está cercado pela policia! Olhei de lado. Era ele. Cresceu, ficou forte, muito forte, o cabelo grande sempre amarrado em um rabo de cavalo. Ele me viu. Deu uma gargalhada – Vado Escoteiro? O Valente da porrada? É você? Era chamado por ele assim. Levantei e dei nele um forte abraço.

                      O Delegado gritou de novo – Vamos evitar tiros sem necessidade e passageiros feridos Zé. Desça logo – Ele gritou novamente – Me dá dez minutos delegado e vou descer desarmado e sem reagir, eu prometo. Sentado ao meu lado um senhor de idade. – Ele educadamente gritou no ouvido do pobre coitado. - Suma! O sujeito saiu chispado. Ele se assentou ao meu lado. Ficamos estes dez minutos lembrando-se do nosso passado. A gente dava belas gargalhadas. Lá fora o delegado impaciente. Nunca na vida contei “causos” do passado sob a mira de fuzis. Lembra-se da descida do Bairro do Pastoril? Eu lembrava. Uma turma querendo me dar uma surra. Ele chegou com um porrete na mão. Desceu a burduna na turma e gritou - Bateu nele bateu em mim! Só eu posso dar porrada nele! Ele se levantou e me deu outro abraço, apertado. Chegou a doer. Vi que seus olhos encheram-se de lágrimas. Eu também chorei escondido. Queira ou não tinha por ele uma grande admiração. – Adeus meu amigo. Acho que nunca mais vamos nos ver! Desceu do trem e vi dezenas de policiais apontando armas para ele. Alguém colocou uma algema e ele sorriu. Na plataforma me deu um último adeus usando a cabeça e sorrindo para o delegado!


Não fiquei sabendo dos seus crimes ou roubos. Não havia jornal na minha cidade para informar. Mas Zé Neguinho me marcou muito. Não foi escoteiro. Deveria ter sido. Nunca o esqueci. De vez em quando procuro aqui na internet se vejo alguma noticia dele. Deve ter morrido. Se fosse hoje quem sabe eu poderia ter descido e conversado com o Delegado. Quem sabe poderia ter ajudado. Não o fiz. Será que resolveria? O destino não se mede pelas ações, mas sim pelo que se fez ou faz. Espero que ele tenha conhecido a felicidade. Seu sorriso sempre foi contagiante e dizem que quem sabe dar um lindo sorriso também é feliz.

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Hora de dormir, amanhã é outro dia... Viver!



Hora de dormir, amanhã é outro dia...
Viver!

                     Frequentemente me perguntam quantos anos tenho. Mas isso que importa? Tenho a idade que quero ter e sinto. A idade em que posso gritar sem medo do que possa pensar. Fazer o que desejo, sem medo do fracasso ou do desconhecido. Tenho a experiência dos anos vividos e a força da convicção dos meus desejos. Que importa quantos anos tenho! Não quero pensar nisso… Uns dizem que já sou velho e outros que estou no apogeu. Mas não é a idade que tenho, nem o que dizem as pessoas, mas o que meu coração sente e o meu cérebro diz.

                    Tenho os anos necessários para gritar o que penso, para fazer o que quero, para reconhecer velhos erros, retificar caminhos e aferrolhar êxitos. Agora, não têm mais porque dizer: És muito jovem… não conseguirás. Tenho a idade em que as coisas se olham com mais calma, mas com o interesse de continuar crescendo. Tenho os anos em que os sonhos se começam a acariciar com os dedos e as ilusões se convertem em esperança. Tenho os anos em que o amor, às vezes é uma chama louca desejosa de consumir-se no fogo de uma paixão desejada. Outras, um remanso de paz como a praia ao entardecer. Quantos anos eu tenho? Não necessito dizer um número, pois, meus anseios alcançados, os triunfos conseguidos, as lágrimas que pelo caminho eu derramei ao ver as ilusões desfeitas… Valem muito mais do que isso.

                     Que importa se cumpro vinte, quarenta, sessenta ou setenta! O que importa é a idade que sinto. Tenho os anos que necessito para viver livre e sem medos. Para seguir sem temor pela vereda, pois levo comigo a experiência adquirida e a força de meus desejos. Quantos anos eu tenho? Isso a quem importa? Tenho os anos necessários para perder o medo e fazer o que quero e sinto.


Boa noite meus amigos e amigas, um sono leve delicioso e um despertar com muita paz e amor no coração.

domingo, 5 de abril de 2015

Como vivíamos antes de 1945?



Como vivíamos antes de 1945?

                    Esta é uma crônica que li a tempos na internet. Achei interessante. Apesar de que em vez de 1945 eu diria que boa parte poderia ir até 1955. Eu vivi muito disto, uma época diferente, gostosa, simples, sem afetação e sem medo. Sem contar o sem dinheiro. Bem deixa o cronista falar mais sobre a época e que época! Linda demais.

                   - Eis uma pergunta interessante Muitos jovens ao ouvirem esta crônica vão argumentar: -  “Ora, vim da mesma maneira que viveram nossos antepassados”. Será mesmo? Tudo bem, o raciocínio está certo. Entretanto vejamos como era a existência antes dos inúmeros eventos que surgiram nestes 70 anos e sem as mordomias científicas de hoje. Nós nascemos antes da televisão, antes da penicilina, da vacina Sabin, da comida congelada, da fralda descartável, do Xerox, do plástico, das lentes de contato e da pílula. Nós nascemos antes do radar, do cartão de crédito, fissão de átomos, raio lazer e canetas esferográficas. Antes da máquina de lavar pratos, cobertores elétricos e ar condicionado.

Nós nascemos antes dos direitos humanos, da mulher que trabalha fora de casa, da terapia de grupo, dos SPAS e dos Flats. Nós nunca tínhamos ouvido falar em vídeo cassete, computadores, vídeo games, “danoninhos” e rapazes de brinco e tatuados. Nós nascemos antes dos antibióticos, dos transplantes de coração e do Viagra. Todavia, mesmo sem este remédio a população decuplicou. Era uma época de famílias numerosas, oito a doze filhos... As moradas só possuíam um banheiro e é fácil de imaginar a fila de espera pela manhã. Casávamo-nos primeiro e só depois morávamos juntos. O casamento não era descartável. Os casais viviam junto durante muitos anos e acreditem, com os mesmos parceiros!

Gente estranha não? Sexo era tabu. Motel? Tornar-se-ia apelido pejorativo de Hotel. Éramos tão inocentes que acreditávamos na existência de Papai Noel... E que a cegonha era mãe de todos os bebês. Nos nossos dias fumavam-se cigarros livremente. Erva era usada para fazer chá, coca era refrigerante, pó era sujeira, Biquíni era uma ilha do Pacífico e sacanagem era palavrão. Embalo era como se fazia para crianças ir dormir, Lambada era chicotada. Fio dental servia para higiene bucal e malhar era coisa de ferreiro. Nós fomos à última geração tão boba, a ponto de que se precisava de um marido para ter um bebê. Além disto, éramos tão ingênuos que cedíamos lugar para uma senhora sentar na condução, abríamos portas para os mais velhos e pagávamos a despesa quando saíamos com a namorada.

A geração de hoje, talvez olhe para nós com cara de espanto, tentando saber como sobrevivíamos com tão poucos recursos e manias estranhas e esquisitas... Bem, nós nos contentávamos com o que tínhamos. Tínhamos o bonde e as praias despoluídas. Quando não era possível ir à Miami, fazíamos passeios à Ilha de Paquetá, Petrópolis, Santos ou Guarujá. Tínhamos as brincadeiras de rua, os bailes de formatura, as novelas da Rádio Nacional. Curtíamos o delicioso namoro no portão, com todo respeito. E as favelas eram apenas temas de belas músicas. Também fazíamos passeios ao Joá, e ao Pico do Jaraguá ou na Barra que era então um grande areal. Existiam muitos terrenos baldios, onde a garotada se divertia e jogava pelada. E o mais importante, andávamos pelas ruas sem medo de assalto ou sequestro.


Parece muito pouco, quase nada comparado com a trepidante época atual. Mas éramos felizes, inocentes, românticos e sem a terrível competição de hoje. Não é de espantar que estejamos hoje confusos e haja tamanha lacuna entre as gerações.
Mas nós vivíamos! Sim, nós vivíamos e continuaremos a viver, apesar das próximas invenções. Henrique Nigri/autor.