EM ALGUM LUGAR DO PASSADO

EM ALGUM LUGAR DO PASSADO
Celia, 49 anos de felicidade. Não sei viver sem ela

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Quando eu voltei a ser criança.


Quando eu voltei a ser criança.

              Uma máquina do tempo me levou ao passado. Que coisa boa. Nesta viagem os ETs apagaram da minha mente minha velhice e me fizeram sonhar de novo com os meus sete anos! Um sonho distante. Que lindo! Voltar de novo a ser criança e era como um cinema na minha frente e eu vendo...

              - Me vi acordando pela manhã, ouvi novamente os pardais no pé de manga no quintal da minha casa, que bom. Sabia que não ia à escola, pois era sábado, e ficaria ali a olhar para o teto e sorrir. Meus pensamentos eram tantos e nem sabia o que iria fazer hoje, lá fora pela janela o sol forte. E gostava do sol mais que da chuva. Lindo o sol brilhante. Me via colocando as mãos sobre a nuca pensando nos meus problemas. Muitos. Sabia que mamãe ia pedir para bombear água para a caixa logo cedo. Não tínhamos água da rua e uma cisterna resolvia. Ela sabia que quando saísse não tinha hora para voltar. Seriam cento e cinquenta bombadas. Nada menos que meia hora e lá ia eu após tomar café com bolo de aipim que minha fazia sempre. Eu adorava.

              - Me vi sentado na linha do trem, adorava colocar os ouvidos no trilho e ver se alguma locomotiva ia passar. Dava para ouvir o plac plac ao longe. Os outros meninos estavam jogando bolas de gude. Eu sempre tinha vinte ou trinta biroscas. Gostava de jogar. Três panelinhas, correr uma por uma, ganhar ou perder minha birosca. Mais meninos chegavam. Mais panelas eram feitas. Se tivesse chovido na véspera era a vez do finquinho. Entretanto hoje neste sábado não teria tempo. Mamãe conseguiu com a costureira dez carreteis de madeira. Tinha guardado uma lata de marmelada. Iria dar um belo carrinho para minha coleção.

              - Minha casa, depois da linha da estrada de ferro, tinha uma varandinha, nos fundos um quintal enorme. Vavá meu primo mais velho comprou uma mesa de ping pong.  Eu me virava jogando com minha irmã Cecéia. A mais velha. Bem próximo ao morro lá no fundão do quintal era minha cidade. Nela eu sempre fazia estradas, pontes, um posto de gasolina e algumas casinhas. Lá eu guardava minha frota de caminhões. Todos de lata com carreteis de linha. Difícil decisão. Minha mente tinha de resolver, não era fácil. Jogar birosca, fazer meu carrinho ou soltar meu papagaio que papai fez? Quantos problemas eu tinha. Afinal ele além de fazer um lindo papagaio fez também uma manivela enorme! Eu tinha prometido aos meus amigos de levar o papagaio aos céus, bem alto e se voltasse com pingos de nuvens seria uma alegria que iria durar para sempre! Eram poucos que conseguiam. Só a alegria de voar, sem destruir os dos outros!

             - Um sábado. Quantas coisas eu ia fazer. Mas a turminha da birosca insistia para eu participar. Já ia caminhando rumo a eles e passou um menino de azul. Quem era? Nunca o vi. Um boné e um lenço verde e amarelo no pescoço. Nos meus gibis já tinha visto os caubóis assim. Mas ele era diferente. Estava sorrindo. Orgulhoso de seu uniforme! Meu Deus! Que lindo menino. – Oi, você, quem você é? – Sou lobinho. – Lobinho? – Sim, dos escoteiros. - Minha nossa! Onde vocês ficam? Atrás do cinema Pio XII. – Mamãe! Vou lá perto do cinema, volto logo. Vou ver os escoteiros! – Não demore, o almoço está quase pronto.

             - Uma turma enorme. Mais de cem. Todos brincando. Que lindo! Sentei numa pedra próxima e fiquei ali o tempo todo vendo. Sabia que mamãe ia ficar “braba”, pois não queria sair dali. Meus olhinhos brilhavam. Meus lábios sorriam toda vez que davam um grito esquisito! - Um lobinho me chamou. – Quer participar? Falta um na minha matilha cinza. Um jogo difícil. Precisamos de mais um! – Que bonito foi. Esqueci tudo. Meus carrinhos de lata, minhas biroscas, meus finquinhos e até meu lido papagaio que ia voar nas nuvens. Agora estava nos lobinhos. Meu Deus! Que coisa maravilhosa!

            - Mamãe! Venha comigo. Tem de me matricular nos escoteiros! Ela riu e disse hoje não. Chorei. Chorei muito. Mas filho amanhã não pode? Não mamãe, tem de ser hoje. E lá foi ela de mãos dada comigo. Minha mãe. Minha linda mamãe. E o começo da jornada começou ali. Ela sempre me apoiou. Meu pai ria quando contava minhas histórias de lobinho. Grande papai. Senti alguém me puxando, era a máquina do tempo. Trouxe-me de volta ao meu mundo, a minha velhice, as minhas lembranças. Quando tempo, quantas coisas boas e quantas recordações. Um dia quero a máquina do tempo de volta. Ver novamente fatos marcados que ficaram para sempre na minha memória. Como foi bom voltar a ser criança, valeu. Nunca esqueci aquele menino de azul. Foi quem me trouxe a esta vida que sempre amei. Obrigado. Não sei mais quem é. Não lembro o seu nome. Onde estiver, obrigado mesmo

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