EM ALGUM LUGAR DO PASSADO

EM ALGUM LUGAR DO PASSADO
Celia, 49 anos de felicidade. Não sei viver sem ela

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Ai, o circo vem ai! Quem chora tem que rir de tanta palhaçada!


Conversa ao pé do fogo.
Ai, o circo vem ai! Quem chora tem que rir de tanta palhaçada!

O Circo Vem Aí

Ai, o circo vem aí,
Quem chora tem que rir,
Com tanta palhaçada,
Tem hindu que come fogo,
Faquir que come prego,
Mulher que engole espada. (bis)

Tá na hora,
Hora bota o palhaço pra fora. (bis)
Tem um leão,
Tem um elefante,
Tem um anão,
Que levanta o gigante.

              Uma infância que muitos viveram e hoje nem sei se os jovens ainda tem esta oportunidade que eu tive. A chegada do circo era uma apoteose. A cidade em peso não falava outra coisa. Podia ser o Circo Garcia, o Circo Tihany, Grand Circo Orlando Orfei, Circo Americano, e tantos outros. Não sei nas grandes cidades, mas nas pequenas era o espetáculo do dia. Eu não esqueço nunca. Um amigo Escoteiro vinha correndo gritando: - O circo chegou! O circo chegou! Pronto. Tudo se encerrava, agora é viver o circo. Correr para a praça da estação onde eles enfeitiçavam a cidade. Era bom demais ficar ali, sentado, boquiaberto e vendo o corre, corre da peãozada para levantar os mastros, subir a lona e montar as arquibancadas que todos chamavam de poleiro. Lá na frente cadeiras que eles diziam ser camarotes. Em um dia tudo pronto. Que lindo era. As luzes coloridas à noite piscando e a gente não saia dali. Lá pelas tantas dizia – Vou para casa, amanhã após as aulas eu volto. A gente não queria sair dali. A garotada em peso presa e sonhando. Quem um dia não sonhou em ser do circo? Em seguir o circo de cidades em cidades por este mundo de Deus?

               Era um castigo quando você sentado na carteira da classe, o Padre Pedro dando sua aula de matemática e lá fora o circo desfilando. – Padre! Deixa nois ir lá ver? Ele carrancudo olhava para você e dizia – Não é nois, é nós! Mas seu coração era bom demais. – Dez minutos! Quem se atrasar procure o Padre Nonato. Ele vai tentar entender porque vocês estavam fora da aula. A gente nem pensava e desatava a correr até o portão do Colégio. Poxa! Era bonito demais. Na frente à moça em cima do elefante. No carro o de som o dono do circo gritava seu espetáculo – “Hoje tem hoje tem, e os palhaços em frente repetiam”. – Tem sim senhor. Hoje tem hoje tem, tem marmelada? Tem sim senhor! Hoje tem Goiabada? Tem sim senhor! E o palhaço o que é? É ladrão de mulher! E lá iam eles desfilando o dono do circo gritando – Não percam hoje no Gran Circo Garcia, agora com três picadeiros, venham ver o maior espetáculo da terra! Venham ver o leão da montanha, venham ver a mulher barbada, venham ver o homem que engole espada, o faquir que come prego. Não percam Os maiores trapezistas do mundo!

                  Que sonho meu Deus! Eu não ia perder. Claro não podia pagar e tinha de passar por baixo da lona. Era experiente, sabia como fazer. Eu adorava os palhaços. Dizem que a alegria não está no circo, está no palhaço. Contaram-me que até o palhaço mais alegre do circo pode chorar em um dia de folga. Não me importava desde que me fizesse rir. – Mãe eu vou ao circo hoje à noite, vou chegar tarde. Ela ria e sabia que eu ia dar um jeito de passar por baixo da lona. Não tínhamos dinheiro para o ingresso. Na primeira tentativa o homem bigodudo me esperava lá dentro embaixo do poleiro. Pegava-me pela gola e bumm! Jogava-me lá fora. Mas eu não desistia e tentava de novo, sabia que em uma tentativa ia conseguir. E claro conseguia. Debaixo do poleiro, ou melhor, da arquibancada procurava um lugar para sentar. Agora era ver os trapezistas, o magico, o menino do elefante, o valente domador de leões, o homem que come fogo e o engolidor de espada. Eu mal respirava! Não perdia nada!

                 Era uma infância gostosa, inocente, onde até os vigias de circo fingiam não ver quando passávamos por baixo da lona. Acho que sua paga seria ouvir nossas risadas com os palhaços, com o macaquinho ladrão. Eita, meu Deus! Tempo bom demais. Hoje acho que o circo como era acabou. Agora é um tal circo de Solei, tudo como se fosse um cinema, é bonito mas não era como meu circo Thiany, um circo de mágicos que meus olhos esbugalhados não acreditava no que eles faziam. Alguém me disse que ao acabar com o circo nas pequenas cidades ou mesmo nas grandes cidades, deixaram a molecada sem diversão e ela correu para as drogas, para a marginalidade e outras coisas mais. Enfim, aqueles que como eu puderam assistir aos circos que correram o sertão sabe e guarda na memória os tempos felizes, onde a amizade, o sonho e a bondade tinha presença garantida.


               Tem volta? Volta no tempo? Não tem. Agora a meninada se diverte olhando um smartfhone, um celular dourado, músicas que não se entende, eles não tiram os olhos, não veem nada a sua volta, nem sabe que hoje tem lua cheia, que o vento vem do sul, que as estrelas brilham no céu. Nem mesmo conversam mais com seus pais, com seus irmãos, com seus amigos. Agora só o que tem ali naquela maquinha infernal prevalece. O circo? Este ficou na memória, mas valeu!   

Um comentário:

  1. Amei a recordação do circo. Continue trabalhando com as crianças e mostrando o lado bom e alegre da vida.
    Parabéns!

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