Conversa ao pé do fogo.
Ai, o circo vem ai! Quem chora tem que rir de tanta palhaçada!
O Circo Vem Aí
Ai, o circo vem aí,
Quem chora tem que rir,
Com tanta palhaçada,
Tem hindu que come fogo,
Faquir que come prego,
Mulher que engole espada. (bis)
Quem chora tem que rir,
Com tanta palhaçada,
Tem hindu que come fogo,
Faquir que come prego,
Mulher que engole espada. (bis)
Tá na hora,
Hora bota o palhaço pra fora. (bis)
Hora bota o palhaço pra fora. (bis)
Tem um leão,
Tem um elefante,
Tem um anão,
Que levanta o gigante.
Tem um elefante,
Tem um anão,
Que levanta o gigante.
Uma infância
que muitos viveram e hoje nem sei se os jovens ainda tem esta oportunidade que
eu tive. A chegada do circo era uma apoteose. A cidade em peso não falava outra
coisa. Podia ser o Circo Garcia, o Circo Tihany, Grand Circo Orlando Orfei, Circo
Americano, e tantos outros. Não sei nas grandes cidades, mas nas pequenas era o
espetáculo do dia. Eu não esqueço nunca. Um amigo Escoteiro vinha correndo
gritando: - O circo chegou! O circo chegou! Pronto. Tudo se encerrava, agora é
viver o circo. Correr para a praça da estação onde eles enfeitiçavam a cidade.
Era bom demais ficar ali, sentado, boquiaberto e vendo o corre, corre da peãozada
para levantar os mastros, subir a lona e montar as arquibancadas que todos
chamavam de poleiro. Lá na frente cadeiras que eles diziam ser camarotes. Em um
dia tudo pronto. Que lindo era. As luzes coloridas à noite piscando e a gente
não saia dali. Lá pelas tantas dizia – Vou para casa, amanhã após as aulas eu
volto. A gente não queria sair dali. A garotada em peso presa e sonhando. Quem
um dia não sonhou em ser do circo? Em seguir o circo de cidades em cidades por
este mundo de Deus?
Era um
castigo quando você sentado na carteira da classe, o Padre Pedro dando sua aula
de matemática e lá fora o circo desfilando. – Padre! Deixa nois ir lá ver? Ele
carrancudo olhava para você e dizia – Não é nois, é nós! Mas seu coração era
bom demais. – Dez minutos! Quem se atrasar procure o Padre Nonato. Ele vai
tentar entender porque vocês estavam fora da aula. A gente nem pensava e
desatava a correr até o portão do Colégio. Poxa! Era bonito demais. Na frente à
moça em cima do elefante. No carro o de som o dono do circo gritava seu
espetáculo – “Hoje tem hoje tem, e os palhaços em frente repetiam”. – Tem sim
senhor. Hoje tem hoje tem, tem marmelada? Tem sim senhor! Hoje tem Goiabada?
Tem sim senhor! E o palhaço o que é? É ladrão de mulher! E lá iam eles desfilando
o dono do circo gritando – Não percam hoje no Gran Circo Garcia, agora com três
picadeiros, venham ver o maior espetáculo da terra! Venham ver o leão da
montanha, venham ver a mulher barbada, venham ver o homem que engole espada, o
faquir que come prego. Não percam Os maiores trapezistas do mundo!
Que
sonho meu Deus! Eu não ia perder. Claro não podia pagar e tinha de passar por
baixo da lona. Era experiente, sabia como fazer. Eu adorava os palhaços. Dizem
que a alegria não está no circo, está no palhaço. Contaram-me que até o palhaço
mais alegre do circo pode chorar em um dia de folga. Não me importava desde que
me fizesse rir. – Mãe eu vou ao circo hoje à noite, vou chegar tarde. Ela ria e
sabia que eu ia dar um jeito de passar por baixo da lona. Não tínhamos dinheiro
para o ingresso. Na primeira tentativa o homem bigodudo me esperava lá dentro
embaixo do poleiro. Pegava-me pela gola e bumm! Jogava-me lá fora. Mas eu não
desistia e tentava de novo, sabia que em uma tentativa ia conseguir. E claro
conseguia. Debaixo do poleiro, ou melhor, da arquibancada procurava um lugar
para sentar. Agora era ver os trapezistas, o magico, o menino do elefante, o
valente domador de leões, o homem que come fogo e o engolidor de espada. Eu mal
respirava! Não perdia nada!
Era uma
infância gostosa, inocente, onde até os vigias de circo fingiam não ver quando
passávamos por baixo da lona. Acho que sua paga seria ouvir nossas risadas com
os palhaços, com o macaquinho ladrão. Eita, meu Deus! Tempo bom demais. Hoje
acho que o circo como era acabou. Agora é um tal circo de Solei, tudo como se
fosse um cinema, é bonito mas não era como meu circo Thiany, um circo de
mágicos que meus olhos esbugalhados não acreditava no que eles faziam. Alguém
me disse que ao acabar com o circo nas pequenas cidades ou mesmo nas grandes
cidades, deixaram a molecada sem diversão e ela correu para as drogas, para a
marginalidade e outras coisas mais. Enfim, aqueles que como eu puderam assistir
aos circos que correram o sertão sabe e guarda na memória os tempos felizes,
onde a amizade, o sonho e a bondade tinha presença garantida.
Tem volta?
Volta no tempo? Não tem. Agora a meninada se diverte olhando um smartfhone, um
celular dourado, músicas que não se entende, eles não tiram os olhos, não veem
nada a sua volta, nem sabe que hoje tem lua cheia, que o vento vem do sul, que
as estrelas brilham no céu. Nem mesmo conversam mais com seus pais, com seus
irmãos, com seus amigos. Agora só o que tem ali naquela maquinha infernal
prevalece. O circo? Este ficou na memória, mas valeu!
Amei a recordação do circo. Continue trabalhando com as crianças e mostrando o lado bom e alegre da vida.
ResponderExcluirParabéns!