EM ALGUM LUGAR DO PASSADO

EM ALGUM LUGAR DO PASSADO
Celia, 49 anos de felicidade. Não sei viver sem ela

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Saudades da minha terra!



Saudades da minha terra!

Oh! Que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!

                 O tempo passa, e muitas coisas das nossas vidas vão sendo colocadas em uma parte do nosso cérebro, não esquecidas, mas para serem lembradas um dia. Eu sou um homem da terra. De muitas terras. De algumas cidades. Um dia destes li de Paulo Gondim, um poema, do seu lindo Ceará. “Minha terra tão querida, a quem sempre vou amar. Um dia eu deixei, mas voltarei, ao meu lindo Ceará”.

Ninguém esquece sua terra natal. Sua cidade, seu estado, seus amigos, suas histórias tão queridas. Nasci na minha querida Minas Gerais. Oh! Minas Gerais! Quem te conhece não esquece jamais. Nasci em uma cidade perdida no longínquo norte do estado, pequena, sem nada para viver, quem sabe uma ou duas ruas calçadas, uma pracinha, mas eu? Morava a seis quadras mais longe. Casa de taipa, esburacada, rua sem calçamento, esgoto a céu aberto, doenças. Três irmãs foram para o céu ainda com menos de quatro anos. Eu quase fui.

            Dois anos que não lembro a não ser as histórias contadas por meus pais e irmãs. Sobraram duas delas e eu. Meu pai seleiro, família pobre, lá fomos nós para uma fazenda. Não me lembro de nada. Menos de um ano e de novo outra cidade do outro lado das Minas Gerais. Poucas lembranças. Mais três anos e de novo outra e outra até que com seis fincamos o pé por muitos anos em uma maior, bem ao lado do formoso Vale do Rio Doce. Rio Doce! Quantas saudades, quantas travessias, jangadas, comer ingá nas suas margens nas cheias, quantos peixes. Hoje soube que está como o Tietê. Dói-me fundo. Ali praticamente cresci. Fui lobinho, Escoteiro, viajando a pé, de bicicleta vivendo uma vida de aventuras sem pensar no amanhã. Voltei um dia em todas as pequerruchas cidades que vivi. Fiquei tempos na terra onde nasci. Passei ali menos de duas horas. Vi a casa onde comecei minha vida de homem terreno. Nas outras poucas lembranças de uma época que minha memória não arquivou. Não tinham mudado nada na visão dos meus pais. Nesta última foram treze anos, de alegria, felicidades até que um dia a mudança aconteceu.

           Meu pai doente, início da década de sessenta, diabete ainda desconhecida era melhor procurar médicos especialistas. Capital do Estado. Nova vida. Novo emprego. Usina Siderúrgica. Peão no inicio. Interessante. Nunca fomos ricos. Ouve fases, algumas remediados outras? Melhor nem comentar. Estudo? Terceiro ano de ginásio. Iletrado. Nunca fui Doutor. Aprendi muito na Universidade da vida. Não sei como fui convidado para ser o chefão Escoteiro do estado. Comissário Regional. Uma época de viagens. Cidades e mais cidades sendo engolidas pelo escotismo. Amigos e amigos novos sendo conquistados. Quantas histórias, quantas estradas percorridas, quantas coisas ficaram para trás. Mas o tempo não para. Um dia alguém chegou para mim – Queres ser um Administrador de uma fazenda? Putz! Não pensei duas vezes. Celia ao meu lado. Sempre formidável minha linda Célia. Oito mil cabeças. Meu Deus! Que isso? Botas no pé, chapéu de couro, perneira, meu lindo gibão cravejado, um peitoril simples e lá estava eu vaquejando aqui e ali pelas largas e capoeiras da vida.

               Quantas aventuras. Viagens no Rio das Velhas, Sucuri de dez metros, enfrentar a correnteza do São Francisco, enfrentar pistoleiros morrendo de medo. Pescarias, criação a parte, porcos, galinhas, tratores, um D-8 da Caterpillar, enorme me hipnotizava. Comprei uma vacada de um fazendeiro em Barra do Guaçuí. 150 quilômetros. Achei melhor trazer por terra. Para mostrar ao Diretor que era econômico. Pobre “bunda”. Seis dias ida e volta. A cavalo. Levando um gado fácil, mas trabalhoso. Cinco anos maravilhosos. Filhos crescendo. Precisavam de bons colégios. São Paulo. Meu destino final. Empregado. Luta constante. Osasco era minha morada, ou melhor, ainda é. A luta dizem que é renhida, difícil. Sempre ao olhar minha vida lembro-me do poema de Gonçalves Dias. - Juca-Pirama. “Sou bravo, sou forte, sou filho do norte”. Andei longes terras, lidei cruas guerras, vaguei pelas serras dos vis Aimorés...

               Ei, calma! Não sou bravo e nem forte. Mas o tempo vai passando. Os anos não perdoam. Não dá mais para trabalhar. Uma vil aposentadoria. Mas feliz. Muito feliz. Quatro filhos criados e casados. Oito netos, uma linda árvore genealógica dando prosseguimento as lides traçadas por milhares de anos no espaço. Rodei meio Brasil. Pisei em outras terras. Conheci outros rumos, outros destinos. Mudei demais. Não sei se fiz bem. Não vejo como traçar o meu destino de outra forma. Tenho dúvidas não arrependimento. Quem sabe nem todas as trilhas que escolhi deram em boas estradas. Um dia destes irei por aí. Sei aonde vou. Não posso levar mais minha barraca, minha mochila e meu chapéu de três bicos. Lá dizem tem lindos locais de campos. Córregos dançantes de águas tão claras que dá para ver o passado e o futuro. Onde as florestas são verdes e as flores as mais lindas do universo.

               Sempre é bom lembrar o caminho. Sempre é bom ver o que se foi o que se fez. Nunca fui rico. Morei em casa de taipas. Morei em tantos lugares que de vez em quando perco a memoria onde estou. Meu carrinho está encostado. Não anda mais. Me obriga a forçar meus passos por aí. Melhor assim, pois sempre fiz isto em minha vida. Viajei meio mundo no lombo de uma bicicleta. Com meu Vulcabrás conquistei montes e vales desconhecidos. Adoro o que fiz. Adoro o que sou. Não tenho duvidas do que serei.

                 Eu gosto de São Paulo. Fiz dele minha morada por mais de 35 anos. Não sei se fiz aqui muito amigos. Os mais chegados já partiram para começarem tudo de novo com os novos tempos. Eu ainda não fui. Deus me reservou outro destino. Seja ele o que for estarei pronto a enfrentar. Mas sabem, não tenho medo, não tenho receios. O que tem de ser será. Não podemos fugir do nosso destino.

Canção do Exílio

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar — sozinho, à noite —
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Gonçalves Dias.

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