“Causos e Ocausos”
Belos tempos.
Todos nós temos
passagens na vida que não esquecemos. Algumas boas, outras ótimas e as ruins
são em maior número. Depois que tempo passou é que vemos que todas elas tiveram
sua hora certa para acontecer. Dizer que faríamos de outra maneira eu não sei.
Se foi feito assim era porque acreditava que nada mudaria em nosso destino.
Temos escolhas que muitas vezes nos assalta a mente por saber que elas podem
dar ou não dar certo. Aqui não se trata somente disto. Minha vida foi
divertida. Claro, muitos momentos ruins. Mas eu soube aproveitar a cada minuto,
a cada dia e nunca deixei de tentar fazer e continuar fazendo até ver se ia dar
certo. Algumas passagens do passado que hoje lembro e dou risadas. No passado
não dei gargalhadas. Mas depois eu digo a mim mesmo. Valeu! E se valeu!
Esta aconteceu na década de
sessenta, trabalhava como Técnico Programador em uma Usina Siderúrgica. Área de
laminação. Foi nomeado pela diretoria o responsável para resolver todos os
problemas da CIPA. (Prevenção Interna de Acidentes no Trabalho). O numero de
acidentes multiplicava a cada mês. Alguém deu ideia sobre como evitar acidentes
na área de ajustagem. Os esmeris eram um perigo. Ele deu uma ideia para
melhorar o trabalho da piãozada. Primeiro aumentar o tamanho dos óculos de proteção
e a segunda ia levar uma analise mais demorada. Trabalhavam juntos mais de 200
homens simultaneamente em cada turno distribuídos em dez bancadas diferentes.
Junto com um supervisor da Ajustagem subimos na passarela da Ponte Rolante,
pois lá em cima a visão do galpão (mais de cem metros de comprimento) era muito
boa para ver a sugestão que deram na CIPA. Não sei como, em vez de olhar o
galpão olhei para trás e vi um espetáculo que mudou a usina em seu modo de
viver. Nada mais nada menos que a Secretária (uma bela loira metida que só
vendo) de um Diretor alemão, famoso pela sua seriedade, fazendo sexo oral com
ele. Ele não dava um pio. Esqueceram a janela aberta. De pernas abertas em cima
de sua escrivania, ela agachada acariciava beijava e colocava na boca o membro
dele, e quando ele terminou ela engoliu tudo. E ainda limpou o membro com uma
toalhinha molhada. O Chefe da Ajustagem que estava ao meu lado bateu palmas.
Eles correram para fechar a janela. Tarde demais. A Radio Pião tomou conta. A
usina em peso só comentou aquilo por meses e meses. A secretaria foi demitida.
O Diretor voltou para a Alemanha! Risos.
Ainda na década de sessenta.
Porto de Tubarão. Vitória. Trabalhava em uma companhia que estava construindo a
Usina de Peletização de minério de ferro da Vale do Rio Doce. Era uma espécie
de Chefe de Transporte. Trabalhava em um galpão de madeira e minha mesa ficava
ao lado de um janelão que dava para avistar o mar a menos de cem metros. Um
privilegiado eu me sentia. Todos os dias trabalhando e recebendo o vento
marinho no rosto. Um dia resolvi almoçar correndo e tomar um banho de mar. Comi
as pressas. De calção de banho pulei na água. Era bom nadador. O mar para mim
não tinha segredos. Nadei mar adentro uns cento e cinquenta metros. Ia retornar
e ao meu lado uns quatro tubarões. Enormes. Deus do céu! Desta vez estou morto,
pensei. Eram mansos, me acompanharam até a praia. Depois fiquei sabendo que
naquela época do ano eles viviam ali na costa. Tive sorte. Os perigosos
apareciam mais tarde. Vivendo e aprendendo.
Década de sessenta novamente. Meu
casamento. Uma epopeia. Celia minha esposa com dezesseis anos. Precisava do pai
para autorizar. Pai sumiu. Custei a arrumar um juiz na cidadezinha que morava
para fazer o casamento civil. Não tinha recebido o pagamento. Duro. Celia e a
mãe vieram de trem. Pedi ao Carlos meu amigo se me emprestava oitenta reais.
Valor para pagar o Juiz. Ele não tinha. Tomou emprestado do juiz, mas não disse
para que. Deu-me o dinheiro. Depois de casado paguei ao Juiz. Ele olhou a
notas. Risos. Acho que reconheceu, mas não entendeu nada!
Norte de minas meio da década de
setenta. Gerente em uma fazenda. Cria recria e engorda mais de 8.000 cabeças.
Queria mostrar que entendia. Bem de mato sim, mas de gado não. Comecei no
cavalo. Trazeiro doía horrivelmente. Um ano depois ainda não tinha traquejo. Os
vaqueiros diziam que precisa de calo na “bunda”. Risos. Anualmente vacinar o
gado. Aftosa e etc. A junta não era fácil. Demorávamos mais de três meses para
vacinar todos. Demos falta no final de umas cem cabeças. A maioria garrotes.
Ariscos. Achamos trinta deles na larga grande. Região de Cerrado. Mata fechada.
Cactos à vontade. Muitas árvores com espinho. Cipós à vontade. Meu cavalo
avista um garrote. Apronta uma corrida atrás dele sem minha ordem. Estava de
perneira e chapéu de couro. Não adiantou. Bati a cabeça em um galho de árvore.
Cai no meio dos espinheiros. Um mês de molho. A vaqueirada rindo da peça. Celia
demorou dois dias para tirar espinhos no meu corpo. Cavalo? Passei cinco meses
sem montar...
Ainda no Norte de Minas. Ainda na
fazenda. Tínhamos dois tratores agrícolas pequenos que chamávamos de jeriquinho
um e dois. Um tratorista chamado Antonio Branco estava fazendo uma roçada em um
piquete enorme. Cabia mais de trezentas cabeças. Tínhamos uma boa roçadeira
acoplada ao jeriquinho. Quando cheguei lá a cavalo o era hora do tratorista
almoçar. Resolvi dar uma roçada por minha conta. Eu entendia bem do trator e da
roçadeira. No final do piquete um monte de arvores pequenas e lá fui eu para
cortar e roçar. Maldita árvore. Tinha duas grandes casas de marimbondos. Antonio
sabia, mas esqueceu de me avisar. Milhares de maribondos em cima de mim. Pulei
do trator ainda ligado e em movimento. Corri feito um demônio para o Rio das
Velhas distante uns cem metros. Pulei na água. Mordidas mil. Fiquei inchado.
Fui parar no hospital de Pirapora. Mais trinta dias de molho. Sou mesmo um
sujeito de sorte.
São Paulo final da década de
setenta. Gerente de Depósito de Materiais trabalhando na Vila Leopoldina. Três
galpões enormes abarrotados de tubos de aço. Os pisos ficavam a mais de metro e
meio de altura da rua. Começou a chover. Agua subindo. Subindo. Subindo. Quando
vi que ia passar o piso mandei todos saírem com agua no pescoço até a rua onde
a enchente não tinha chegado. Fui o ultimo. Quando tirei a bota com biqueira de
aço, pisei em um mandi ou bagre sei lá. Quem conhece sabe o veneno que o danado
solta em sua barbatana dura em forma de espada. Meu Deus! Uma dor incrível.
Mesmo assim abandonei minha sala e fui até a saída. Pisei em outro e mais
outro. Mal deu para chegar à rua sem enchente. Não aguentava andar. Direto para
o pronto socorro. Paradoxo. Trabalhar em São Paulo, pegar uma enchente de um
córrego sujo, que ninguém nunca supôs ter peixe e ser envenenado por mandís.
Valha-me Deus.
São Paulo, década de oitenta. Assistente
regional de adestramento escoteiro. Curso programado no campo Escola do
Jaraguá. Chovia a cântaros. Meu carro não pegava. O jeito era ir de moto. Do
meu filho mais "Velho". Andava mal, mas andava. Ao chegar à porteira
(hoje tudo mudado) abri passei a moto fechei e fui na estradinha cheia de
barro. Em uma curva cai. Com a moto em cima da perna esquerda. Deitado na lama
sem poder sair. Só trinta minutos depois apareceu um carro com alunos.
Viram-me. Ajudaram-me. Claro para o hospital. Fratura na perna. Engessei mas
voltei ao campo escola de taxi. Sentado participei do curso. Ao chegar a casa
no domingo um grande susto. Voltei de moto. Perna engessada. Quando conto até
hoje acham que inventei. Perguntem aos alunos. Perguntem a minha família.
Risos.
Tem mais, muito mais, mas fica
para outra. Inté como diz o mineiro. Risos.
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