As
coisas boas que não tem preço.
Não tem. Posso afirmar com
conhecimento de causa. Hoje tirei o dia para lembrar-se do meu casamento. Foi
diferente? Acho que não. Igual a tantos outros, mas o casamento no civil foi
demais. Meu dinheiro do mês acabou. Como pagar o Juiz de Paz? Apelei para um
amigo e ele também não tinha. Na porta do cartório não sabia o que fazer. Ele
entrou no cartório e veio com o dinheiro contado para pagar. – Quem lhe
emprestou? – Ele riu. Melhor não saber. Eu o conhecia, pois era pai de um
Escoteiro do Grupo onde era Chefe. Cumprimentou-me e iniciou a rotina de praxe
do casamento no civil. Terminado o paguei com duas notas de cem cruzeiros
novos. Ele pegou as duas notas olhou me olhou, olhou para meu amigo, mas sorriu
leve e não disse nada. Tinha reconhecido as notas que saíram de seu bolso!
Acredite, no pagamento fiz questão de ir lá ao cartório e dizer para ele o que
aconteceu. Tem juros? Ele riu e nada disse. Meu amigo recebeu e logo o pagou.
Boas lembranças!
Eu e Célia viajamos de
madrugada para Melo Viana distrito de Coronel Fabriciano onde morava. Tinha um
ônibus daqueles antigão, mas o Jovelino do Taxi me disse que me levaria e eu
poderia pagar no pagamento. Puxa! As dividas avolumavam. Aceitei, pois tinha
quatro malas e difícil levar no ônibus. Hoje tirei o dia para lembrar-se da
casinha alugada. Eu a pintei de branco. Estava desbotada. Não tinha cerca e um
enorme quintal e bem lá nos fundos ficava a Privada feita de Sapé. Um buraco no
chão e madeira para pisar. Dois cômodos. Um quarto e uma cozinha que servia de
sala. Sala? Uma cristaleira, uma mesa e caixotes para sentar. Nos primeiros
meses fogão a lenha e seis meses depois com muito custo comprei um fogão a gás.
E o gás? Dois meses um caminhão passava. Muitas vezes o fogão a lenha quebrava
o galho.
Era bom demais ter minha
casinha, minha esposa, amigos e trabalhar. Sim na Usiminas de turnos alternado.
Uma semana à noite, outra a tarde e outra de manhã. Na famosa folga de Oitenta!
Não sabem? Oitenta horas, demorava-se quatro semanas para chegar nela, as
demais eram 24 e 36 horas. Célia enfrentou tudo com um sorriso nos lábios. Gostávamos
da nossa casinha pintada de branco e alugada. Tínhamos quatro caixotes que
serviam de cadeiras. Não se esquecer do meu radio de ondas curtas. As tardes ou
as noites quando estava em casa ouvir a Radio Mayrink Veiga ou a Radio
Nacional. – Adorava quando aos sábados anunciavam: - E ai vem! Hoje é dia de
Rock! E Roberto Carlos chegava para comandar. Ah! Velhos tempos, tempos que a
gente não esquece mais.
Mas um dia a vida me
levou para outras plagas. A Usina me mandou embora. Quatro anos, um filho
recém-nascido e lá fui eu parar em Vitória. Porto de Tubarão. Apanhei de escorrer
sangue para conseguir uma vaga. Foi sorte? Foi o Destino? Um dia conto como
foi.
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