Nos tempos da
brilhantina.
Eu não tive blusão de
couro, botas como a do Roberto Carlos, eu fiquei fora de muitas coisas da minha
época. Tive um casamento que perdura até hoje onde a felicidade mora em meu
lar. Não tive lua de mel, o que era isto? Naquela época a rapaziada da minha
cidade do interior não sabia de muitas coisas. Papai Noel estava chegando, para
nós era época do nascimento de Jesus. Perder a missa do galo era ficar
arrependido por todo o ano até que estivéssemos presentes em outra. Pascoa se
fazia diferente. Coelho? Chocolates? Nunca tinha ouvido falar. Dias das mães,
dos pais, dos avós, do tio, da criança ainda seriam criados. O comercio ainda
não tinha pensando nisto. Dizem que nas cidades grandes ou mesmo onde os filhos
tinham pais que os mandavam estudar em colégios importantes eram os representantes
do Brasil na modernidade.
Quem vê hoje nem adivinha o
que era naquele tempo. Modernidade? Eu tentei, levantei a gola da camisa para
ficar igual ao Elvis Presley. Penteado não dava. Tinha o cabelo seco e crespo. Casei
em um dia e a noite fui trabalhar. Moleza? Nunca tive. Ficar aqui e ali
cantando Rock and roll tomando uma cervejinha não dava. Dinheiro não sobrava. Mal
e mal uma “furrupa” em casa de amigos que hoje se transformou em baladas nas
casas famosas do Brasil. Quando os militares resolveram fazer uma revolução e
tomar o poder eu fiquei na minha. Tinha outras preocupações. Mulher e filho
para cuidar. Trabalhando em turnos, pouca folga salário pequeno. Eu lia as
prisões, quase fui preso porque um dedo duro disse que nosso Grupo Escoteiro era
comunista. Só porque usávamos lenço vermelho. Cara pintada? Punk? Baderneiros
que saem quebrando tudo? Isto nem pensar. Ainda éramos cavalheiros, tirávamos o
chapéu para as mulheres, dava o banco do ônibus para elas principalmente os
maiores de idade. Puxar a cadeira para uma dama sentar, pagar a despesa, ser
educado e prestativo era nosso lema.
Criei quatro filhos
trabalhando de sol a sol. Nada faltou para eles, mas nunca fui rico. Nunca fui
um cara pintada, não tinha tempo para isto. Faltar ao serviço era ser demitido
e eu não podia me dar este luxo. Hoje vejo greves de meses. Todos recebendo seus
salários para ficar em casa. Sei que muitos tem razão, mas receber sem
trabalhar? Quem dera eu pudesse fazer isto. Nas grandes cidades não se anda
tranquilamente mais. É passeata para todo lado. A maioria resolve e nem
comunica as autoridades. Um direito deles? E o meu direito de ir e vir? Só eles
tem este direito? Nunca vi tantas passeatas. Ainda bem que ninguém se preocupa
em trabalhar. Está recebendo e, portanto tem o direito de infernizar a vida do
outro que quer passar. Era outra época, época que os empregos não existiam.
Você fazia o primário e os demais só em colégios pagos. Faculdade para pobre no
interior? Matuto não tem vez.
Mas foi um tempo bom,
gostoso, alegre, cheio de vida. A honestidade fazia a vez entre os jovens.
Havia a preocupação com a honra, com o caráter e a boa apresentação. Contar que
quando jovem ia fazer meu “fut” (passeio) na praça da cidade é demais. Praça
redonda, a rapaziada que tinham condições com seu blusão de couro, sua calça
faroeste (jeans ainda não existiam) camisas de mangas compridas com as golas
levantadas. Uma turminha cantado baixinho um rock qualquer. Eu na minha
simplicidade sem um tostão furado trabalhava com meu pai e ele técnico de rádio
sempre tinha um radinho potente para ouvir. Aos sábados os amigos me
procuravam, ligávamos um radio na Radio Mayrink Veiga só para ouvir o programa do
Roberto Carlos – Hoje é dia de Rock! – Fenomenal. Poucos compravam seus discos
de vinil das musicas do momento. Um dia comprei um do Little Richard. Quase
furei o disco de tanto tocar.
Outra época era
feliz. Existia sim os políticos desonestos. A gente ficava a parte. Eles
roubavam sorrindo sem você saber. Hoje não se sabe se tem políticos honestos.
Cometem um crime e na maioria são soltos. Vão gastar nas Américas, na França e
praias famosas do mundo. Eu gostava daquele mundo. Mundo onde sabíamos quem era
quem. Cidade pequena os segredos eram difíceis de serem guardados. Só fui ter
uma TV lá pelos anos de 1965. Geladeira também. Faziam falta? Claro que sim,
mas quem se preocupava? Saudades daquele tempo. Não me importava em receber salário
baixo, afinal eu ainda tinha um e muitos não tinham nada. Esta luta de hoje sei
que vale a pena. Mas apenas para uma classe. Quem não pode fazer passeata, quem
não pode ter representantes vive e morre com o que tem.
Não sei se
existe termo de comparação. Mas se pudesse escolher preferiria meus Tempos da
Brilhantina. Eu era feliz e não sabia!