EM ALGUM LUGAR DO PASSADO

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Celia, 49 anos de felicidade. Não sei viver sem ela

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Um cafezinho por favor!


Um cafezinho, por favor!

                        Final da década de cinquenta. Dezenove anos. Desempregado. Precisava trabalhar. Consegui um emprego. Não sabia onde estava me metendo. Queria trabalhar e outros queriam me matar. Isto mesmo. Apontador de horas na Techint. Uma empresa de Engenharia e Construção. Renovando e asfaltando a Rio Bahia. Um mês de trabalho. Ninguém me avisou nada. Horas pagas erroneamente o apontador era o culpado. Serviço do Pessoal inocente. Antes de mim dois foram para o hospital e quatro sumiram para nunca mais voltar. Todos me olhavam de esguelha. Escoteiro que era achei que me achavam interessante. Putz!  Sai pagamento. Eu recebi o meu. Você podia pegar tudo e por no bolso. Não havia roubos. O acampamento nosso era próximo a Alpercatas. O dia amanheceu e eu de pé para iniciar o trabalho. Uns oito ali na porta do alojamento me esperando – Mocinho! Tá faltando dinheiro! – No meu também! Um por um foram reclamando. O Encarregado me falou baixinho – Corra o mais que puder e se esconda. Se não conseguir é um homem morto. Era bom nisto. Não me pegaram. Corri até Alpercata e lá peguei carona para minha cidade. Juntei-me aos quatro que nunca mais voltaram para juntar sua tralha nem para dar baixa na carteira profissional. Risos.

                       Seis meses depois viajava de trem para Dom Silvério interior de Minas. Época que a Estrada de Ferro Leopoldina cortava quase todo o Brasil. Agora era promotor de vendas. Melhor, um reles vendedor de livros. Uma serra ligava uma cidade à outra. Em linha reta se fazia a pé em uma hora e meia, mas de trem era três horas. Paramos em uma estação. Não ia descer. Na janela uma morena de olhos verdes e cabelos negros ondulantes me ofereceu cafezinho em um copo de vidro. – Só um real moço! Caramba, era linda demais. Precisava ver de corpo inteiro. Desci do trem. Era mestre para subir com ele andando. Ela sorriu para mim. Que corpinho lindo! Quinze? Dezesseis? Por aí. – tomei um café, depois outro, brincando disse – Te dou cinco reais por um beijo! – Ela fez beicinho. O trem ia saindo. Dei um breve beijinho no rosto dela e sai correndo. Peguei o trem e pensei que seria o beijo mais lindo que tinha dado. Fui sonhando até a próxima estação.


                       O trem apitou. Encostou-se à plataforma. A garotada gritando – Goiaba, banana manga! Pão com Carne, Pastelzinho, churrasco! Olhei pela janela e lá estava ela de novo. Como? Ela voava? – Cafezinho moço? Ou um beijinho? – Surgiu na janela um garoto forte, alto com uma garrucha na mão. – Beije aqui moço! É de graça! – Nossa Senhora! O que é isto? O trem foi saindo de mansinho. Um tiro ecoou e bateu no vidro da janela do outro lado. Um túnel e uma descida. Mãe de Deus! Salvei-me desta. Um velho ao meu lado explicou que era só atravessar uma garganta, menos de cinco minutos e passava de uma estação a outra. De trem um volta enorme. Aprendi. Nunca mais comprei um beijinho viajando. O pior é que nunca fiz isto! Foi a primeira e única vez em minha vida. Única? Risos. Não sei não...

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