Um cafezinho, por favor!
Há muitos e muitos anos, lá pelos idos de 1959 eu viajava de trem para a
cidade de Dom Silvério interior de Minas Gerais. Época que a Estrada de Ferro
Leopoldina cortava quase todo o Brasil. Era um promotor de vendas, ou melhor,
um reles vendedor de livros. Uma serra montanhosa ligava uma cidade à outra. Em
linha reta se fazia a pé em uma hora e meia, mas de trem era cinco horas.
Paramos em uma estação. Não ia descer. Os meninos gritavam tentando vender seus
pasteizinhos, pão com carne, churrasco, goiaba, manga e tantas guloseimas
possível. Na janela vi uma morena de olhos verdes, cabelos negros ondulantes,
linda demais. Ofereceu-me cafezinho em um copo de vidro. – Só um real moço!
Caramba, era linda demais. Precisava vê-la de corpo inteiro. Desci do trem. Era
mestre para subir com ele andando. Ela sorriu para mim. Pensei com meus botões:
- Que corpinho lindo! Quinze? Dezesseis? Por aí. – tomei um café, depois outro,
brincando disse – Te dou cinco reais por um beijo! – Ela fez beicinho. O trem
ia saindo. Dei um breve beijinho no rosto dela e sai correndo. Peguei o trem e
pensei que seria o beijo mais lindo que tinha dado. Fui sonhando até a próxima
estação.
O trem apitou. Encostou-se à plataforma. A garotada gritando – Goiaba,
banana manga! Pão com Carne, Pastelzinho, churrasco! Olhei pela janela e lá
estava ela de novo. Como? Ela voava? – Cafezinho moço? Ou um beijinho? – Surgiu
na janela um garoto forte, alto com uma garrucha na mão. – Beije aqui moço! É
de graça! – Nossa Senhora! O que é isto? O trem foi saindo de mansinho. Um tiro
ecoou e bateu no vidro da janela do outro lado. Um túnel e uma descida. Mãe de
Deus! Salvei-me desta. Um velho ao meu lado explicou que era só atravessar uma
garganta, menos de cinco minutos e passava de uma estação a outra. De trem um
volta enorme. Aprendi. Nunca mais comprei um beijinho viajando. O pior é que
nunca fiz isto! Foi a primeira e única vez em minha vida. Beijinhos? Risos,
nunca mais...
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