Nem tudo que reluz é ouro.
A lei de ouro do comportamento é a tolerância
mútua, já que nunca pensaremos todos da mesma maneira, já que nunca veremos
senão uma parte da verdade e sob ângulos diversos.
Acompanho a saga do
nosso povo sofrido. Eu sou um deles. Como somos enganados. Acho que não só aqui,
mas em muitos países. Sempre alguém querendo aproveitar, ganhar mais sem medir consequências
e até onde pode ir. Dizem que sempre tem o dia onde passamos a enxergar o que
não víamos. Promessas mil nas horas que antecedem as eleições. Os humildes
acreditam e dão seu voto sorrindo. Os anos passam e eles continuam acreditando.
Pensando bem até nós que temos um pouco mais de conhecimento ficamos sem saber
quando estamos lá na urna tomando a decisão. Não tem jeito. Vou votar nele.
Pelo menos ele é assim e assado. Retorno? Tem alguns que sim. Pedidos simples
que deveríamos ter o direito de pleitear, mas as dificuldades são tantas que
pedimos a eles. E assim os anos vão passando, passando até que um belo dia
despertamos. Chega! Dizemos. E eis que surgem os inconformados. Jovens cheios
de altruísmo. Esta turma nova nos abriu os olhos! E lá vamos todos reivindicar
nossos direitos na rua. De norte a sul de leste a oeste só uma palavra de
ordem: - Ocupem as ruas, as praças, passeiem e mostrem que somos unidos. Vamos
mostrar a todos que temos nossos direitos.
Estou Velho. Muito
Velho. Passei por poucas e boas. Sempre acreditei na força da união. Mas já vi
muitos fracassos. Não serve de comparação, mas me lembro de um fato acontecido
em 1963/64 quando trabalhava na Usiminas. Havia um Setor de Vigilância que se
achavam acima do bem e do mal. Eram os donos de tudo. Diziam que eles tinham um
porão escondido e ali muitos apanhavam ou morriam. Todos tinham um medo enorme
deles. Mas era uma época onde se deixava levar como hoje. Não dizem que aonde a
vaca vai o boi vai atrás? Era borduna daqui, dali e reclamar para quem? A
própria policia na época diziam também que eram mancomunados. Eu seguia o
rebanho. Precisava trabalhar. Tinha mulher e filhos e não podia perder o
emprego. Uma época que dávamos bênçãos aos céus por ter um lugar onde
mensalmente recebêssemos nosso rico dinheirinho. Um dia pego minha bicicleta e
lá vou eu trabalhar. Oito da matina. Portaria 4 tomada. Milhares de peões ali. Que
foi? Estão “caçando” vigilantes. Parece que mataram dois de nós! – Ninguém
entra ninguém sai. Chega um caminhão cheio de policiais. Na carroceria armada
em cima de um tripé uma metralhadora ponto 30. Perigosíssima! A conhecia quando
servi o Exercito.
Eu fiquei ali olhando
abismado. Enfrentar a policia? Os vigilantes? Só vi o estouro da boiada. Gente
correndo pra todo lado. Dois soldados abriram fogo com a metralhadora. Vi muita
gente ferida. Para dizer a verdade o soldado atirava a esmo em cima de mais de
três mil peões. Dizem que morreram oito. Bota oito nisto. Mas contar a verdade
para que? Os vigilantes sumiram. A policia se entrincheirou num alto de morro. A
usina entregue as baratas, ou melhor, aos peões. Liberdade gritavam todos.
Direitos gritavam outros. Dois batalhões militares desembarcaram dois dias
depois. Calma. Não entraram na usina. Ficaram nos quarteis. Sabiam que uma
faísca iria provocar uma guerra. Ardilosamente um diretor fez contato com o
sindicado. - Convidemos os peões para assumir interinamente como vigilantes ele
disse. O salário deles será dobrado! Beleza. Eu mesmo aceitei. Estava noivo,
duro e precisava montar minha casinha. Trabalhava de doze a quinze horas por
dia. O tempo foi passando. Um mês, dois, três e no quarto apareceram os novos
vigilantes. Novo uniforme, lindos, gente massuda, altos, fortes e bem
treinados.
Seis meses depois eu vi
que nada mudou. Piorou isto sim. Os novos vigilantes por qualquer coisa pegava
pelos cabelos e desce cassetete no lombo. Eu mesmo levei alguns só porque
reclamei deles um dia por fecharem os portões cinco minutos depois da hora.
Cheguei atrasado. Não me deixaram entrar. A lei do cão de novo em ação. Na
cidade e nos bairros a policia não deu folga. Qualquer coisa pau neles os
pobres peões. Os valentes peões que um dia se revoltaram pensando que tudo ia
mudar voltaram a ser aqueles mesmos a seguir o pai ganso. Dois anos depois me
deram um chute no traseiro e me mandaram embora. Até hoje fico pensado que sem
um líder nada acontece. Mas se este líder puder ser comprado pior ainda.
Hoje estamos vendo uma
revolta acontecendo. Sem uma pauta sem uma definição do que deve ser ou como
vai ser. Os políticos calados e escondidos em suas cavernas onde tramam como ganhar
com esta revolta e melhorar aquilo que querem. Mais poder e mais dinheiro. Podemos
acreditar? Claro que sim. Se não houver uma grande mobilização e politização
nada vamos conseguir. A boa fé sempre é um caminho. Mas precisamos ver que nada
se resolve sem formação e educação. Esta sim é solução final. Quando soubermos
quem é quem, quando escolhermos pessoas capazes (como são difíceis de
encontrar) poderemos melhorar e chegar a ser uma Suíça onde se vive melhor do
que em muitos países. Assim dizem. Mas isto demora. Agora fico esperando que
apareçam alguns lideres desta revolta silenciosa. Tenho receio. E muito. Não
duvide, mas eles acreditando que podem mudar uma nação iram ser cooptados por
algum partido e apresentados como os novos salvadores. Já vi este filme no
passado com as “Diretas já” e o “fora Collor”. Muitos deles se tornaram
deputados, senadores e o escambal.
De qualquer maneira foi
um inicio. Valeu. Sempre vale. Acredito que os lá de cima aprenderam uma lição.
Não são imunes de ações por parte de um povo sofrido. Mas não vamos esperar
milagres. Nós escotistas temos uma responsabilidade com os jovens. É hora de
mostrar a eles o verdadeiro caminho de um homem de caráter, ética e responsabilidade
com seu país. Sei que muitos anos e anos irão se passar. Um dia chegaremos lá
disto tenho certeza. Valeu tudo que aconteceu e está acontecendo. A solução, no
entanto está longe. Tem outros caminhos. Eu sei que vai acontecer de novo. Nada
melhor que terminar estes meus pensamentos com o que escreveu Augusto Branco - “Bom mesmo é ir à luta com determinação, abraçar a vida com paixão,
perder com classe e vencer com ousadia, porque o mundo pertence a quem se
atreve e a vida é "muito" para ser insignificante”.
Pensando em conseguir de uma só vez todos os ovos
de ouro que a galinha poderia lhe dar, ele a matou e a abriu apenas para
descobrir que não havia nada dentro dela.